Abençoadas pelo anticiclone, as eleições regionais dos Açores trouxeram bons ventos a Luís Montenegro, que – convenhamos – não tem sido muito bafejado pela sorte. A 21 de janeiro, na convenção da Aliança Democrática, apresentou algumas propostas e, apesar do fantasma de Pedro Passos Coelho, que primou pela ausência, o presidente do PSD teve figuras de peso como Leonor Beleza e Paulo Portas. A mobilização e as boas energias geradas no Estoril desfizeram-se, porém, ao fim de três dias, com o anúncio aparatoso da Operação Zarco, que revelou a existência de ligações perigosas entre empresários e políticos da ilha onde o PSD governa, ininterruptamente, desde 1976. Por um daqueles azares dignos dos Távoras, os agentes da Polícia Judiciária chegaram à Madeira precisamente no dia em que, nas ruas de Lisboa, a AD lançou um novo cartaz a acusar os governos socialistas de “corrupção” e “falta de ética”, o qual, claro, acabou por fazer ricochete.
Duas semanas depois, ricochete é precisamente o que Luís Montenegro parece ter conseguido fazer com a vitória das eleições regionais nos Açores, onde o PSD não ganhava há 32 anos, desde os tempos de João Mota Amaral. Ao mostrar estar disposto a governar em maioria relativa, José Manuel Bolieiro, atual líder dos laranjas no arquipélago, desfez os equívocos que ainda permaneciam em matéria de eventuais coligações com a direita radical do Chega. Desde domingo passado que o “não é não” de Luís Montenegro se transformou numa tautologia à la Gerturde Stein: “Um não é um não é um não.” Como ainda falta um mês para as legislativas de 10 de março, isso pode ajudar a clarificar as águas turvas em que o PSD navegava, sobretudo, tendo em conta a percentagem de indecisos que as sondagens indicam existir.