O tema da falta de produtividade e crescimento das PMEs em Portugal tem sido dissecado sob diferentes ângulos desde há décadas. Políticas fiscais desfavoráveis, incapacidade de reter a massa cinzenta produzida em Portugal, salários baixos, entre outros. E são variáveis que merecem, naturalmente, atenção. Mas talvez valha a pena dar um passo atrás para compreender de que são feitas muitas (mas felizmente não todas) empresas de pequena e média dimensão portuguesas.
Os pequenos empresários portugueses têm apostado, por várias razões, e ao longo de décadas, em negócios não transacionáveis, ou seja, produtos e serviços que são produzidos em setores não expostos à concorrência internacional e que podem ser objeto de troca internacional.
O problema é que os setores de bens não transacionáveis, como a restauração, não só exigem maiores horas de trabalho para a criação de valor, como requerem mão-de-obra menos qualificada.
E é por isso que tantas notícias exploram o facto de não conseguimos reter talento em Portugal, os salários e a produtividade (ou valor acrescentado) são baixos, ou as políticas fiscais são desadequadas.
Mas e se fosse possível transformar empresas que se focam simplesmente no mercado local, em empresas que tiram partido de um mercado global? O que poderia acontecer ao preço transacionado? Potencialmente aumentaria, o que iria permitir contratar mão-de-obra especializada para melhorar a sua competitividade no setor, com consequências na retenção e aumento generalizado dos salários. Até porque com melhores resultados, as empresas poderiam pagar mais do que pagam atualmente aos seus colaboradores.
É fundamental que as PMEs trabalhem no sentido de tornar os seus produtos e serviços em bens transacionáveis competitivos no mercado internacional. No entanto, 60% das PMEs diz não ter interesse em exportar. Quase 79% das empresas não se sente pressionada relativamente à emergência climática. Mais de 86% não utiliza ferramentas de gestão de risco e a maioria não reconhece nenhuma necessidade em utilizá-las. E ainda, 71,8% das empresas não realizou qualquer investimento em transformação digital.
A única forma de promover uma mudança significativa na economia portuguesa passa pela educação. Citando o investigador da Nova SBE, Francisco Queiró, “Se Portugal tivesse a distribuição de educação dos gestores dos EUA, a produtividade aumentaria 20%, um terço do gap existente.” Na Review of Economic Studies, vale a pena explorar uma hipótese:
O que aconteceria se um gestor de uma PME de média dimensão, num setor de elevado potencial, tivesse as ferramentas e conhecimento necessário para tornar o seu negócio operacionalmente mais eficaz, mais apelativo do ponto de vista de sustentabilidade, mais visível através dos canais de distribuição internacionais, com um modelo de governance adequado implementado na sua organização?
E é neste sentido que a Nova SBE tem vindo a trabalhar – desenvolvendo projetos de impacto para e com as PMEs portuguesas, envolvendo agentes do setor público e privado, fundações e voluntários de todo o país que acreditam no benefício de colocar os seus recursos ao serviço deste desafio nacional. Em novembro por exemplo, iremos realizar o IMPACT PROGRAM, uma iniciativa que foi desenhada em colaboração com mais de 70 empresas e mais de 200 pessoas com um objetivo – compreender quais são as variáveis com maior impacto na sociedade, PMEs, pessoas e organizações de grande dimensão, alavancando o poder da inovação e a oportunidade da sustentabilidade, para que os gestores de PMEs em Portugal estejam melhor capacitados para um futuro que se sabe imprevisível.