A adoção do caminho para a sustentabilidade impõe-se já com um sentido de forte de urgência. Mas, na prática, parece que nada está a acontecer. A razão principal está na dificuldade que todos temos de aceitar que tem de haver mudança de comportamento, de atitude, de cultura, em cada um de nós, o que causa desconforto e uma reação negativa, consciente ou inconsciente, que conduz a que tudo fique na mesma. Esta reação, para dificultar as coisas, percebe-se hoje que é insidiosamente alimentada pelos fortes interesses instituídos que mais têm a perder com a mudança (por exemplo os da indústria dos combustíveis fósseis) e que todos os dias nos alimentam com múltiplos discursos que vão desde acusações de “romantismo” inconsequente associado ao ambientalismo, a afirmações pseudo -científicas sobre os limites e as impossibilidades que os “idealistas” da sustentabilidade se recusariam a ver…
Mas, felizmente, que há formas de vencer a nossa inercia, que nos ajudam a transitar para um mundo mais sustentável e diferente. É o papel extraordinariamente importante das políticas que vamos definindo, empurrando para a mudança, balizando os nossos comportamentos, mas sem comprometer (pelo contrário) as condições para que o nosso conforto futuro e a nossa qualidade de vida aumentem, sem que tenhamos de sacrificar o Planeta em que vivemos ou reduzir as nossas legitimas expectativas.
Um exemplo do que se afirma pode ser visto no sector imobiliário. As políticas europeias na área da Energia e da Neutralidade Carbónica, acabam de ter dar um forte impulso na Directiva 2021/0426 (COD) – On the Energy Performance of Buildings, aprovada no Parlamento Europeu (16 de Março,2023), para ser agora transposta para diretivas específicas nos vários países membros.
As exigências da nova diretiva vão afetar-nos a todos, já que vão determinar uma evolução do parque construído (as casas onde vivemos) e do que vamos construir no futuro. Por exemplo, a directiva define que os edifícios novos terão que ser “emissão zero” a partir de 2026, no caso de serem públicos e em 2028, para os restantes. Também define que os edifícios existentes, residenciais por exemplo, têm de iniciar um processo de renovação que os coloque numa categoria energética que não poderá ser inferior a D já em 2030 (sob pena de perderem valor, por exemplo, aquando da sua transação) e que caminhem para alcançar “emissões zero” em 2050.
A severidade das exigências destas novas políticas para o imobiliário, resulta do facto de o sector dos edifícios, sozinho, ser responsável por ~40% das emissões totais de CO2 no Mundo, das quais 11% na fase de construção dos edifícios e 29% durante a sua vida e funcionamento. Na União Europeia apenas, 40% da Energia Final é consumida no sector dos edifícios e é responsável por 36% das suas emissões totais.
Um aspeto importante é que os edifícios são responsáveis pela emissão de gases de efeito de estufa, mesmo antes de começarem a ser utilizados, por via, por exemplo, do CO2 resultante da energia consumida no processo produtivo e do próprio processo produtivo dos materiais de construção convencionais. Apenas no fabrico de cimento- o material base para a construção de edifícios- são produzidos 8% das emissões totais no Mundo. Isto é, os edifícios, apesar de algum carbono incorporado nos seus materiais, não são carbono neutros do ponto de vista das emissões. Longe disso. Por isso a Directiva recomenda o recurso progressivo a materiais naturais na construção que resultem num comportamento inverso. Exemplo: a madeira.
Por força desta política, assiste-se já em vários países europeus, ao recurso crescente à madeira na construção, o que vai corresponder a uma profunda mudança de paradigma no sector do Imobiliário. Em Portugal, esta mudança é hoje já inteiramente assumida pelo promotor Vanguard Properties, em todos os seus novos projetos.
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