O senhor ainda não definiu qual a sua política relativamente ao Chega… Quer fazê-lo nesta entrevista?
Comigo, o PSD jamais procurará qualquer espécie de entendimento com o Chega ou com André Ventura. Muito menos levaremos o Chega para o governo. Aliás, para além de outras, esta declaração definitiva tem duas vantagens imediatas…
E quais são essas vantagens?
Por um lado, esvazia 99% do argumentário do PS contra o PSD. Isto, a partir deste momento e numa qualquer futura campanha eleitoral. Por outro lado, obrigará a Comunicação Social a começar a fazer outras perguntas ao PSD. Sobre o seu projeto para o País, por exemplo. E ainda tem uma terceira vantagem óbvia…
E qual será?
O eleitorado ficará ciente de que não vale a pena votar no Chega. Se os portugueses quiserem uma mudança, o que terão de fazer é votar no PSD.
Mas André Ventura afirma que não haverá governo de direita, em Portugal, sem o Chega….
O dr. André Ventura está enganado: pode haver um governo de direita sem o Chega. Basta, para isso, que não exista uma maioria de esquerda na Assembleia da República.
Mas, provavelmente, uma maioria de direita só será possível com o Chega…
E quem foi que lhe disse que isso implica um entendimento do PSD com eles?
Não implica?…
Não! Aliás, a partir deste momento, as perguntas sobre o Chega deverão passar a ser feitas ao PS e não a mim: estará o PS disposto a viabilizar um governo do PSD, caso o PSD fique em primeiro lugar nas eleições e não houver hipóteses aritméticas para uma nova geringonça à esquerda? Ou prefere tentar forçar o PSD a levar o Chega para o governo?…
E se o PS forçar isso mesmo? O senhor entende-se com o Chega ou não?
Sobre a minhas intenções relativamente ao Chega, já lhe respondi. Mas o PS não forçará isso. Não acredito que seja tão incoerente. É que, em 2015, o dr. António Costa disse que o PS viabilizaria um governo minoritário da PàF, se ele próprio não tivesse uma alternativa estável. Como dispunha de uma maioria de esquerda, criou a geringonça e arranjou essa alternativa. Mas se não houver essa maioria de esquerda, o PS terá de agir em conformidade. A não ser que…
A não ser que… o quê?
A não ser que os deputados do PS, a somar aos do Chega, venham a ser suficientes para formar uma geringonça pós-moderna… Não me admiraria nada: para o PS, largar o poder é como quem lhe arranca um dente. E o dr. Ventura, para ir para lá, está por tudo. O que ele quer é tacho. Pensando bem, só se estragava uma casa…
Está a ser irónico… Mas, agora, fora de brincadeiras: um governo minoritário do PSD não criará uma situação de instabilidade?
Pelo contrário. Será um governo forte, que cumprirá a sua vocação reformista. Ninguém, no seu perfeito juízo, derrubaria um governo destes, muito menos o PS. Depois da prova provada de que não nos entendemos com o Chega, o que fariam os eleitores? Dar-nos-iam a maioria absoluta, logo a seguir.
Mas não teme vir a ser acusado, à direita, de fazer uma panelinha com o PS, com um tal governo viabilizado pelos socialistas?
Panelinha, como? Não tenho nenhuma intenção de fazer qualquer acordo, mesmo de incidência parlamentar, com os socialistas. Eles viabilizarão o nosso governo pela força das circunstâncias, não porque lho peçamos. E o próprio Chega, se não quiser dar a ideia de que prefere entregar o poder ao PS, fará o mesmo.
E o PSD aceitará o eventual apoio parlamentar do Chega?
Isso já não é comigo. Não posso, nem aceitar, nem recusar. Trata-se do voto dos deputados.
Mas não procurará entendimentos com ninguém? Isso não será arrogância?
Pondero perguntar à IL, e, se for o caso, ao CDS, se querem cooperar com o PSD numa solução governativa ao centro e ao centro-direita. Mesmo que os votos deles, no Parlamento, não garantam maioria. Ou mesmo que o PSD tenha uma maioria absoluta. Não há arrogância nenhuma.
Mas, com o Chega, não…
Por mim, está respondido. Perguntem ao PS.
Golpe de vista
Outra vez Cavaco
Agora, foi a Habitação. Cavaco Silva tem o condão raro de identificar o ponto no qual o adversário está mais fragilizado e o instinto matador, ainda mais raro em políticos portugueses, para o atacar com tudo, nesse mesmo ponto. Mas isso serve para pouco mais do que expor a falta de impacto dos (sucessivos) líderes da oposição.
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