Desde que o PCP confirmou que ia votar contra o Orçamento do Estado – surpreendendo os que acreditavam que à última hora se podia abster –, a política nacional implodiu. A Geringonça desfez-se, os partidos mais à direita entraram em guerrilha interna e Marcelo Rebelo de Sousa ficou com um problema entre mãos. As movimentações a que se assistiu nos últimos dias foram criando, e adensando, novas crises, paralelas à crise política que nasceu no dia em que o OE foi chumbado.
Nesse dia, ficou claro que a aliança do PS com o BE, e em especial com o PCP, estava mais frágil do que parecia. E no PSD intensificou-se a batalha de poder que já estava montada, com Paulo Rangel a assumir claramente as divergências com Rui Rio, que acusou de não fazer oposição como devia. De um lado e do outro, não têm parado as trocas de acusações. O líder do partido chegou mesmo a fazer um tweet a falar de Marques Mendes por este ter dito que marcar as eleições legislativas para 16 de janeiro era matar a candidatura de Paulo Rangel. Depois de dizer que nunca vê o programa, atirou: “As mensagens que recebi a ridicularizá-lo, para não dizer a insultá-lo, são tantas, que fiquei curioso.” Já a vice-presidente do PSD, Isabel Meirelles, num artigo de opinião, atacou Marcelo por ter recebido Paulo Rangel, considerando ter o objetivo de “arremessar um torpedo a Rui Rio”. No PSD as atenções centram-se agora nas eleições a 4 dezembro. Já no CDS, a crise da crise é outra: o partido de Francisco Rodrigues dos Santos decidiu adiar o congresso, marcado para dia 26 de novembro, para depois das eleições legislativas. Uma decisão que gerou uma onda de críticas, com Lobo Xavier a confessar que nem tem coragem de promover o voto no partido e Nuno Melo, candidato a líder, a anunciar que vai recorrer para o Tribunal Constitucional. Pelo meio, Adolfo Mesquita Nunes e António Pires de Lima anunciaram a saída do CDS e Paulo Portas disse que o partido parecia uma associação de estudantes.