A pandemia teve efeitos devastadores na economia mundial e, de forma não completamente expectável, terá contribuído para um aumento generalizado dos custos de construção.
Se o agravamento dos custos da mão de obra já se fazia sentir de alguns anos a esta parte por razões mais ou menos identificadas, o mesmo se está agora a verificar com os materiais de construção civil, em geral, seja ao nível das madeiras, dos metais, dos materiais para isolamento e de revestimento e muitos outros.
Os analistas explicam esta realidade com um forte aumento da procura mundial, após o grande período de paragem e de expectativa, mas também devido ao facto de muitas indústrias terem tido grandes perturbações na produção. As linhas de produção pararam ou diminuíram a sua capacidade produtiva, o petróleo subiu e, os preços das matérias-primas, tiveram incrementos nalguns casos muito superiores a 30%.
Estas subidas, explicáveis pelos fatores atrás referidos, tem óbvias consequências para as empreitadas de construção civil, para a promoção imobiliária e em última análise para os consumidores finais.
Vários cenários são possíveis nesta conjuntura. No curto prazo é de esperar:
- Um adiamento de decisões por parte de investidores e donos de obra, aguardando por uma estabilização do mercado;
- O cancelamento das empreitadas;
- Uma diminuição das margens das empresas nas empreitadas em curso, o que pode conduzir a uma renegociação dos orçamentos contratualizados;
- Uma grande dificuldade em repercutir as subidas no consumidor final, originando menores margens de lucro para as empresas, prejudicando assim o equilíbrio das estruturas financeiras.
Estas situações já estão a acontecer em Portugal, mas, existem notícias vindas de outros continentes, nomeadamente dos Estados Unidos da América, onde se utiliza muito as madeiras cujo preço está em alta (superou em muito os 30%), o que provocou custos acrescidos e que passaram em alguns casos a não estar cobertos pelos financiamentos bancários necessários.
No médio prazo a incerteza é grande, uma vez que tudo está muito dependente da evolução dos preços dos materiais:
- Se houver uma desaceleração, é expectável que o impacto no preço final de venda, seja diminuto, sendo absorvido pelos intervenientes;
- Contudo, se não houver desaceleração dos preços, pensamos que haverá uma repercussão nos preços de vendas ao consumidor final.
Na atual conjuntura, concluímos que o sector imobiliário terá com certeza dificuldades acrescidas, a não ser que algo se modifique na estrutura de custos diretos da construção, nomeadamente via fiscalidade ou através da adoção de sistemas construtivos mais racionais e repetitivos e/ou ainda, via indireta pela diminuição da burocracia, porque tempo é dinheiro.
*com Jorge Felício, sócio gerente da Endless Numbers (Grupo Omega)