Apesar de ser ainda cedo para perceber, em profundidade, o impacto do efeito Covid -19 no mercado de imobiliário comercial português, há alguns sinais que nos possibilitam uma análise mais assertiva, o que nos permite sustentar melhor as expectativas.
Quando em março a pandemia atingiu fortemente Portugal e a sua economia, com o confinamento subsequente, a maioria dos negócios que vinham de trás mantiveram-se e foram concluídos com sucesso. Este ponto, demonstra a confiança existente, tanto nos projetos, como na nossa economia.
A preocupação dos principais agentes, naquele momento prendia-se com as novas procuras e oportunidades de negócio, que ficaram suspensas, o que aliás é perfeitamente natural, tendo em conta o elevado grau de incerteza sobre o futuro mais próximo, que a nova conjuntura trazia associada.
Neste início de junho, já conseguimos sentir uma retoma dessa atividade, embora de forma moderada, mas também cautelosa. E é por isso, que acredito que poderá ser útil poder partilhar uma nova foto instantânea (como nos tempos da saudosa Polaroid) sobre os verdadeiros impactos no mercado imobiliário, que como nenhum outro, reflete de forma quase cristalina a situação do tecido económico.
Assim, no segmento dos escritórios, a procura recomeçou. Nomeadamente, algumas empresas internacionais iniciaram processos de avaliação sobre a cidade de Lisboa, como destino de novas operações, ou para a instalação de serviços especializados. Na nossa opinião, estes processos deverão ser ainda mais lentos do que no passado, devido ao impacto da pandemia neste segmento do imobiliário, que era um dos mais dinâmicos e que registava um aumento acelerado das rendas. Tanto na disponibilidade de espaço, como nas rendas, o efeito da pandemia é ainda muito diminuto, mas existe uma maior flexibilidade de negociação, por parte dos senhorios.
Contudo, apesar do terceiro trimestre, previsivelmente, ser aquele mais fustigado pela conjuntura, acreditamos que 2020 irá terminar com dados muito positivos, quer na área colocada, quer na resiliência das rendas. Isto, porque a eventual “elasticidade” dos senhorios, deverá refletir-se noutro tipo de incentivos.
Na logística, o efeito é semelhante. Os novos hábitos de consumo sustentados pelo comércio eletrónico, durante o período de confinamento, vieram para ficar; com este novo paradigma a suportar novas operações de apoio aos comerciantes. Por isso, também neste segmento, as rendas não sofreram oscilações e a falta de oferta de espaços, principalmente com qualidade, continuam a sustentar a estabilidade dos valores de arrendamento.
Esta realidade deverá manter-se nos próximos meses, o que leva a que a logística seja, neste momento, o segmento mais estável em termos de atividade e de investimento.
O retalho foi o setor mais atingido, pelas suspensões de atividade a que foi sujeito. As novas operações de expansão e/ou de investimento ficaram retraídas, por tempo indeterminado e por isso, neste momento, mesmo que houvesse uma forte redução das rendas, continuaria a ser muito difícil encontrar retalhistas que ocupassem esses espaços.
Este será, provavelmente, o setor com uma retoma mais lenta. Esta situação poderá ser a alavanca fundamental para forçar uma tendência já bastante acentuada noutras geografias, mas que tardava chegar a Portugal, e que passa por uma reinvenção do retalho, de modo a torná-lo uma experiência de aproximação às marcas, sustentado pelas plataformas digitais, para finalizar as compras.
Em conclusão, apesar do susto inicial, acreditamos que a recuperação, embora lenta e prudente, já se começa a avizinhar. À medida que os atores deste setor forem adquirindo maior confiança, iremos voltar a uma atividade robusta, ainda que não em todos os setores.