Quando em outubro do ano passado a presidente brasileira Dilma Rousseff protestou energicamente contra a espionagem dos Estados Unidos ao seu governo, e ao seu próprio telefone, não se ia ficar apenas pelas palavras.
Apesar da interdependência das duas economias, a começar pelo investimento direto das elites brasileiras no sector imobiliário de Miami – uma verdadeira moda com mais de 20 anos – até à desastrada compra e venda de uma refinaria em Pasadena, onde o Brasil perdeu milhões, Dilma encontrou na espionagem o motivo público de que precisava para mudar de campo.
Ideológica e historicamente Dilma e o PT, mas sobre tudo Dilma, está muito mais próxima da oligarquia russa e da nomenclatura chinesa do que da narrativa humanista para consumo exterior de Obama. E foi assim que um grampo no telefone se tornou a gota de água.
O último ano foi fértil em episódios que mostram um Brasil em rota de colisão com o Tio Sam. Em diversas áreas, desde a educação à tecnologia, nas relações comerciais mas sobretudo nas grande opções geoestratégicas, o Brasil aparece, e vota, sem receios ao lado de russos e dos chineses contra a América do Norte. E, no ano de todas as crimeias e ucrânias, esta atitude da presidente brasileira torna-se uma ameaça real e global.
Só o Brasil tem tantos habitantes como o resto da América do Sul e possui uma verdadeira capacidade para influenciar regimes vizinhos “menos estáveis” e com líderes populistas a alinhar pelo mesmo diapasão da senhora do Palácio do Planalto. Se juntamos à ameaça terrorista a possibilidade de um mundo novamente dividido em blocos, coisas impensáveis podem acontecer. E este início de século tem sido pródigo nelas.
Aos Estados Unidos apetece tudo menos outra Cuba. Um bocadinho mais longe do que a ilha de Castro, é certo, mas com o tamanho de um continente, um exército considerável e poderosos amigos nos quatro cantos do mundo.
Para os americanos Dilma não pode ganhar.
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Especialista em Comunicação Informações e Segurança, autor do livro As Grandes Agência Secretas