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Strauss-Kahn demitiu-se do FMI mas garante inocência
A demissão de Dominique Strauss-Kahn, atolado num escândalo sexual, da direcção do FMI aguça muitos apetites, mas um nome começa a circular em Paris com insistência: o de Jean-Claude Trichet, actual presidente do Banco Central Europeu
“Seria fantástico!” exclamou Nout Welink, director do banco central da Holanda, acrescentando: ” A problemática actual do FMI é europeia. Seria uma ajuda se um europeu tivesse de novo a direcção do FMI”.
A Europa, que tem a tutela do Fundo desde os acordos de Bretton Woods (1944), vê a sua predominância contestada por países emergentes como a China, a Índia ou o Brasil. O mandato de Trichet no BCE termina só em Outubro, mas a corrida para a sua sucessão também já começou na EU, o que significa que o BCE não ficaria fragilizado por uma demissão antecipada.
O segundo nome mais citado, depois do de Trichet – a sua prudência na BCE tem-lhe valido alguma irritação e até hostilidade do Presidente francês, Nicolas Sarkozy – é o de Christine Lagarde, a actual ministra da Economia no executivo francês. Para muitos analistas, a necessidade de se substituir DSK inesperadamente jogaria a favor dos europeus na batalha vindoura.
DSK – cinco anos?
Dominique Strauss-Kahn chegou ao Tribunal de Nova Iorque eram umas 15h em Lisboa, para uma nova audiência de pedido de liberdade condicional e talvez para ser interrogado ainda esta quinta-feira pelo Grande Júri – 23 homens e mulheres que decidirão se a justiça deve, ou não, levá-lo a julgamento por tentativa de violação, toques sexuais forçados e sequestro de uma empregada do hotel Sofitel de Nova Iorque, sábado passado.
Em Paris, advogados americanos contam que o Procurador-geral de Nova Iorque, Cyrus Vance Jr., muito empenhado neste primeiro grande caso mediático do seu mandato, teria apostado com os seus colaboradores que DSK acabará com uma sentença de “cinco anos de prisão”. As acusações de que é alvo actualmente totalizam um máximo de 76 anos de prisão em penas acumuladas.
DSK é defendido por Benjamin Brafman, o advogado das celebridades americanas, célebre ele mesmo por conseguir ilibar os seus clientes mesmo nos casos mais desesperados. Outros advogados, mandatados ou não pelos próximos de DSK, tentariam chegar à fala com a empregada, para lhe proporem vários milhões de dólares a troco de ela se desmentir. Mas alegada vítima – que testemunha hoje perante o Grande Júri – está fechada a sete chaves pela procuradoria e incontactável. A priori.
MÉPRISE?
Méprise: substantivo feminino francês, erro de que tem toma uma coisa por outra.
Dominique Strauss-Kahn teria caído numa armadilha para 57 por cento de franceses interrogados pelo instituto de sondagens CSA para a televisão BFM. Mas nos meios políticos, jornalísticos e económicos, são raros os que acreditam na teoria conspiracionista, sustentada sobretudo pelo facto de DSK ter representado, até domingo, o potencial vencedor das presidências francesas de 2012 contra Nicolas Sarkozy. O ecologista Daniel Cohn-Bendit resume o sentimento geral quando diz: “Acreditar na candidatura de Strauss-Kahn foi um erro (…) O comboio descarrilou”.
Excepto se… tiver havido méprise. Esta é agora a palavra mais sussurrada nos círculos políticos em Paris, nas últimas horas. Como uma senha psicológica, para alguns, que ainda ousariam acreditar numa reviravolta plausível. Em que consistiria a tal méprise? DSK teria pensado que a mulher que viu no quarto ao sair da casa de banho seria uma prostituta contratada para desempenhar um roleplay numa fantasia sexual de violação de empregada. Mais sussurros… várias vezes, no passado, DSK teria pago para concretizar esta fantasia. Um tal enredo, confrontado com os acontecimentos de sábado, implicaria, plausivelmente, uma enorme manipulação. Na realidade, a única vertente do caso em que algumas pessoas vêm a mão do Eliseu – mas num condicional absoluto – seria numa eventual luz verde dada à apresentação de queixa na polícia e a uma publicitação do caso.
Suicídio político
Para o psicanalista Serge Hefez, DSK cometeu “um suicídio político”. Repegando nas declarações de quem, em Paris, tinha afinal consciência de que o socialista não queria, no fundo, a presidência da República, e que se deixava só empurrar pela mulher, determinada a ser primeira-dama, e pelos seus apoiantes socialistas, desejosos de regressarem ao poder, Hefez explica que Strauss-Kahn terá “desejado esta queda, que marca a recusa de uma destino preconcebido”. Ou seja, o gesto subconsciente, em vez da méprise.
As últimas palavras de DSK livre
O semanário Le Point conta que as últimas palavras de DSK, antes de a polícia chegar ao avião para o prender, foram dirigidas a uma hospedeira da Air France: “Quel beau cul!”.
A gaffe de Anne Sinclair
Uma informação dada pelo jornal Le Monde: sábado à noite, a mulher de DSK, Anne Sinclair, estava numa festa em casa de amigos, precisamente a falar nas presidenciais de 2012 – ela já se via em primeira-dama – quando recebe um telefonema do marido, a dizer-lhe: “Há um problema grave”. Mas como DSK não deu mais explicações, Anne Sinclair, inocentemente, comentou as palavras do marido com as pessoas presentes. DSK telefonou-lhe de um táxi – não se sabe se à saída do hotel, ou a caminho do aeroporto, onde a viria a ser preso. Uma gaffe involuntária que pesa contra a defesa.