Nunca, desde que existem registos, os níveis de desemprego foram tão elevados em Portugal. O ano passado, pela primeira vez desde 1983, a taxa atingiu dois dígitos, cifrando-se em 10,8% da população ativa, segundo os dados disponíveis na Pordata. Portugal era o nono país com desemprego mais elevado na União Europeia, atrás da Eslováquia (14,4%), Espanha (20,1%), Estónia (16,9%), Grécia (12,5%), Hungria (11,2%), Irlanda (13,5%), Letónia (18,7%) e Lituânia (17,8%). O valor em Portugal era claramente superior ao da União Europeia, que à data registava uma taxa de 9,6%. Segundo projeções apresentadas pela equipa responsável pelo plano de ajuda externa a Portugal, o desemprego em 2012 atingirá 13%, um máximo histórico sem paralelo nas gerações ainda em idade ativa.
Os jovens e os menos qualificados estão entre os mais afetados.
Com uma taxa de 22,4%, a população ativa com menos de 25 anos era a mais atingida pelo desemprego, em 2010. Este é o mais elevado valor desde 1983 mas não está muito distante dos 20,5% registados em 1985, altura em que Portugal adere à então Comunidade Económica Europeia. Sem experiência, a situação grave em que se encontra a população jovem deve mais a esta característica do que a qualquer outra razão (ver Estudar Compensa).
Historicamente, a população menos qualificada tem sido a menos afetada pelo desemprego em Portugal. Mas há dois anos, a situação alterou-se. Quando se analisam as estatísticas, verifica-se que o desemprego dos que não concluíram qualquer nível de escolaridade foi sempre o mais baixo, entre 1998 e 2008. Ao facto não será estranha uma estrutura económica baseada em atividades industriais de mão-de-obra intensiva e sem requisitos de qualificação formal – como foi (é) o caso do setor têxtil e da construção civil. Desde então, passaram a ser os detentores de um diploma de estudos superiores os menos afetados pelo desemprego. Mesmo assim, o desemprego da população mais qualificada é crítico: estão actualmente cerca de 64 mil nestas condições.
Hoje, procurar mão-de-obra em setores de atividade na Europa é mais simples do que no passado, graças à abolição de fronteiras. Se nos anos 1960 milhares de portugueses deixaram o País para procurar noutros destinos (sobretudo europeus) melhores condições de vida, é de crer, embora faltem dados estatísticos credíveis que descrevam o fenómeno, que na atualidade se estejam a replicar outros êxodos históricos nacionais, agora também de gente mais qualificada.
Contudo, além das soluções mais ou menos bem-sucedidas fora de fronteiras, é preciso encontrar respostas nacionais para o problema. Mesmo que ocorra um choque que restitua à economia portuguesa parte da competitividade perdida – seja por via da redução da Taxa Social Única, pela redução de salários, pela re-estruturação da dívida ou pelo aumento da produtividade -, a equação não deve prescindir de um factor: o trabalho. Não abandonando a corrida pelo emprego, o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras pode ter um papel muito importante no aumento da riqueza e no estímulo à competitividade.
Sair da situação crítica em que milhares de portugueses se encontram passa por descobrir soluções inovadoras e criativas, por parte dos decisores políticos, das empresas, e, também, de cada um dos cidadãos. Esse é um dos desafios colocados por um nível de desemprego elevado. Esperemos estar todos à altura – antes e depois de 5 de Junho.
Para saber mais sobre estes e outros temas da sociedade portuguesa nos últimos 50 anos, consulte Portugal: os Números, o livro dos autores publicado na coleção de ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos