O Governo está em desnorte total e o PS segue pelo mesmo caminho. Basta ter presente toda a panóplia de acontecimentos e declarações destas duas últimas semanas para se perceber que já não há rumo, nem autoridade, nem decoro na actuação de figuras centrais da constelação socialista que governa o País.
Quando o último Orçamento de Estado revelou o descalabro das contas públicas, qualquer mediana inteligência compreendeu que seriam necessárias medidas urgentes e capazes de travar a velocidade com que o “carro” estava a precipitar-se para o abismo. Como é óbvio, essa necessidade também não escapou aos governantes, mas o cenário político mudara em resultado das eleições legislativas. O PS perdera a maioria absoluta e tinha outras prioridades. Em vez de atalhar os problemas, dirigiu toda a sua energia para um objectivo imediato: precipitar uma crise política. A ideia parecia exequível, pois o PSD assemelhava-se a um saco de gatos e Cavaco Silva ainda sofria as consequências do “caso” das escutas a Belém, que abalara o Verão. Só que o PS foi com tanta sede ao pote que toda a gente lhe antecipou o jogo. Não só não conseguiu os seus intentos de obrigar a eleições para tentar nova maioria absoluta, como foi sendo desgastado pela deterioração da situação económica.
Acossado, viu-se obrigado a lançar o PEC, mas fez a coisa o mais suavezinha possível. Num horizonte até 2013, as maiores dificuldades vinham no fim, ou seja, já depois das desejadas eleições antecipadas. Quer isto dizer que a estratégia se manteve, embora diferida no tempo, apesar dos custos que toda a ilusão acaba por infligir. Mesmo com o mundo a desabar à sua volta, Sócrates só cedeu depois de encostado à parede por Bruxelas, no final da semana passada. Cego, não reparou num ministro das Finanças incomodado, num titular das Obras Públicas desnorteado e na sua própria figura a desdizer num dia o que vinha garantindo uma e outra vez, quase todos os dias, nos últimos meses.
E, agora, por ter feito tudo mal, Sócrates vai sujeitar os portugueses a medidas mais dolorosas, sendo obrigado a tomá-las no seu pior momento. Ou seja, com a credibilidade a pique, a coesão do Governo minada e o seu principal rival da oposição a ganhar pontos. O primeiro-ministro só pode queixar-se de si próprio.
Mas se o Governo já não consegue esconder as suas fragilidades, o PS também não vive propriamente momentos de exaltação. Pelo contrário, o partido rosa mostra-se dividido, sem direcção política e com os mais insuspeitos dirigentes a darem sinais de grande desorientação. A hesitação quanto ao apoio à candidatura de Manuel Alegre com a troca de mimos entre figuras pró e contra o candidato ou o recente episódio envolvendo o deputado Ricardo Rodrigues dão bem a dimensão do estado a que chegou o PS. Aliás, é constrangedor ver dirigentes como Francisco Assis ou Maria de Belém justificarem o furto praticado pelo parlamentar açoriano a dois jornalistas. É como se o poder obnubilasse a dimensão ética, toldando com um manto opaco o que devia ser transparente e cristalino. Pressente-se que tudo vai acabar muito mal.