O maior partido da oposição escolhe, esta semana, a nova liderança. O PSD terá de optar por uma de três estratégias opostas. A de Pedro Passos Coelho, o liberal. Que parece ter pressa em derrubar o Governo – não subscreveria o PEC e teria chumbado o Orçamento de Estado. Que reclama a demissão do procurador-geral da República, Pinto Monteiro. E que pondera uma moção de censura, caso as conclusões da Comissão de Inquérito sobre o negócio PT/TVI o “justifiquem”.
A de Paulo Rangel, o democrata-cristão. Que, sem enjeitar o derrube de Sócrates, aposta mais no seu desgaste. Que prefere uma táctica guerrilheira. Que tem em conta as sondagens e só ataca com uma moção de censura na certeza de vencer. Que talvez tivesse viabilizado o Orçamento mas – sobretudo porque o voto não é vinculativo… – que chumbaria o PEC.
E a de Aguiar Branco, o social-democrata. Que também não enjeita uma moção de censura. Mas que cultiva a imagem da oposição dita “responsável”, viabilizando o Orçamento e o PEC. Que pretende apresentar ao eleitorado o PSD como partido confiável, dialogante e moderado.
Ou as entrelinhas dos discursos estão todas trocadas, ou estes três candidatos – sobretudo os dois primeiros – estão a salivar pela queda rápida de Sócrates, embora nenhum queira dar o primeiro passo. É verdade que as sondagens favoráveis aos socialistas são um “senão”, mas elas podem mudar assim que o PSD resolver o seu problema de liderança. E, antes que os prazos constitucionais, para eleições antecipadas, se esgotem, o que é preciso fazer de desagradável, no Governo, já terá sido feito pelo PS. Rangel, prudente, faz depender tudo, incluindo o aumento dos impostos, das circunstâncias. Sôfrego, Passos recusa esse aumento e promete uma espécie de quadratura do círculo para redução do défice. Independentemente do voto do moribundo PSD de Manuela Ferreira Leite, hoje, quinta-feira, no Parlamento, o pacto de “salvação nacional” que a oportunidade PEC poderia proporcionar é uma miragem distante. Aconteça o que acontecer, José Sócrates terá uma oposição dura e, se calhar, tendencialmente demagógica.
Se viesse a concluir-se, entretanto, sem margem para dúvidas, que Sócrates mentiu ao Parlamento, o primeiro-ministro teria de sair pelo seu próprio pé – ou empurrado pelo PS – e não através de uma moção de censura. Ora, mesmo com o profissionalismo posto em prática por Mota Amaral, presidente da Comissão, na preparação das audições, é difícil imaginar que os inúmeros depoentes repetentes (que já estiveram na Comissão de Ética) venham acrescentar algo de novo. Os depoentes já sabem o que lhes será perguntado e já conhecem as respostas uns dos outros. E tiveram tempo mais do que suficiente para compor as suas histórias. Na verdade, a maioria dos deputados da Comissão de Ética comportaram-se como garimpeiros em terreno diamantífero: perdidos entre a PT, a TVI, as escutas, a liberdade de expressão e as opiniões avulsas sobre a asfixia democrática, esburacaram, remexeram, danificaram. Dificilmente, agora, um inquérito a sério conseguirá extrair de lá o verdadeiro diamante – a verdade sobre o negócio PT/TVI.