<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 false false false MicrosoftInternetExplorer4 <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=” /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:””; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:”Times New Roman”; mso-fareast-font-family:”Times New Roman”; mso-ansi-language:PT; mso-fareast-language:PT;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} “> <#comment comment=”[if gte mso 10]>
A candidatura a Belém do médico e presidente da AMI, Fernando Nobre, tem o condão de baralhar completamente o jogo político e de colocar os estados maiores de todos os partidos a fazer contas de calcular. Nobre não é um desconhecido, tem penetração nos media, popularidade acima do comum (para um candidato independente) e está suficientemente descomprometido para poder conquistar votos à esquerda e à direita. Enganam-se os que pensam que o homem da AMI vai apenas dividir o eleitorado em princípio afecto a Manuel Alegre. Cavaco também tem de pôr as barbas de molho.
Fernando Nobre é um desmancha-prazeres. Ele pode até ser próximo de Mário Soares – mas os eleitores não o vêem como um socialista e, muito menos, como um homem de partido. Os portugueses têm de Fernando Nobre a ideia de uma espécie de “santo de serviço” e será difícil denegri-lo com o rótulo de “politiqueiro”, como a candidatura de Alegre já começou a insinuar. A sua intervenção dá resposta aos bonitos discursos dos políticos que apelam à participação dos cidadãos e da sociedade civil na política – escondendo, ao mesmo tempo, a intenção de que essa participação seja devidamente enquadrada partidariamente. Pouco sinceros, os partidos não querem cativar independentes, antes pretendem angariar “idiotas úteis”.
Ora, Fernando Nobre faz apelo a um certo sentimento antipartidário. Sendo essa a sua força, ela pode ser, também, a sua maior fragilidade. O tom do seu discurso de apresentação, vagamente sebastianista, está na fronteira do populismo fácil antipolíticos. O candidato terá de encontrar um ponto de equilíbrio que o impeça de resvalar para a demagogia antipartidária, e lhe permita afastar uma certa imagem de arrivismo. Pelo contrário, sendo de fora dos partidos e, portanto, insuspeito, Nobre tem aqui uma oportunidade de evidenciar a sua “magistratura de influência”, na campanha, de uma forma pedagógica e construtiva, destinada a atrair, e não a afastar, ainda mais, os cidadãos da política e dos políticos. E esse será o seu mais difícil teste.
Nos últimos dias, comentadores e políticos têm queimado os neurónios a tentar colar Fernando Nobre a uma qualquer referência à esquerda ou à direita. Desconcertante, o homem troca-lhes as voltas: ele já apoiou candidatos do PS, do PSD e do Bloco de Esquerda. E é difícil entrar em cabeças formatadas que possa haver alguém capaz de fazer as suas opções racionalmente e sem atender a cores “clubísticas”. Causa particular estranheza – e indicia uma certa desorientação – que um homem como Alfredo Barroso, que foi chefe da Casa Civil de Mário Soares e pertence àquele clã dos republicanos puros, tenha arrasado esta candidatura, desconfiando dela com o argumento de que não vem da política, ou se faz contra os políticos. Ora, a República fez-se precisamente para que um pedreiro, um militar, um comerciante, um operário ou um médico – um cidadão livre, no entendimento que Sólon tinha da democracia ateniense – possa ser Presidente. A República não admite castas. A política não é uma coutada, como lembrou o candidato. E é por isso que esta, com todos os seus defeitos, é, na história da nossa democracia, a mais republicana das candidaturas presidenciais.