
Se é dos que passou uns dias, em criança, com febre, cheio de pintas encarnadas na pele, à meia-luz, com panos vermelhos a envolverem os candeeiros, as janelas e outros pontos de iluminação, já sabe do que estamos a falar. Mas não pense que, lá por ter tido sarampo, está completamente livre de o apanhar outra vez… Essa é a primeira notícia inquietante trazida pelo regresso de uma doença que a Organização Mundial de Saúde tinha dado como extinta, há seis meses, em Portugal.
O tema de capa desta edição, que se desenvolve ao longo de um dossiê completíssimo de oito páginas, foi decidido numa reunião de editores, na segunda-feira, de manhã cedo. Em poucos minutos, uma equipa de quatro pessoas, a Sara Sá, com a colaboração da Clara Soares, da Teresa Campos e da Vânia Maia, partiu para o terreno. Definitivamente, ainda que, antes do fim de semana, estivéssemos já alertados para o problema, este caso de saúde pública tornara-se o grande assunto da semana. Não, o sarampo não é uma inócua doença de crianças, e até pode matar, como aconteceu a esta jovem de 17 anos. Não, o facto de se ter tido já a doença não nos coloca 100% ao abrigo de uma reincidência. E não, lá por estarmos vacinados, também não podemos baixar a guarda. Há outros cuidados a tomar e muito a saber, por exemplo, aqui, sobre a febre das manchinas encarnadas, que voltou, em força, à Europa e se manifestou, também, num surto em Portugal, o tal País de onde tinha sido erradicada. No trabalho, as nossas repórteres falaram com especialistas, estiveram no terreno a assistir à vacinação e focaram o tema polémico dos movimentos antivacinas. Mas estes “bodes expiatórios” não explicam tudo. Por exemplo, o bebé de 13 meses considerado “caso zero”, que contaminou seis pessoas, só não fora vacinado a tempo porque, na altura, atravessava um estado febril…
Em foco, também, o regresso de outras doenças que julgávamos pertencerem à geração dos nossos avós: a sífilis, a gonorreia, a hepatite A, a tosse convulsa… Tudo isso existe, tudo isso é triste, mas tudo isso não tem de ser um fado, se tomarmos precauções. Uma reportagem a não perder.
Sócrates olha para o relógio
Sabia que em oito casos judiciais mediáticos, do tipo do que acontece com a Operação Marquês, apenas dois foram mais rápidos do que a investigação a José Sócrates? O ex-primeiro-ministro anunciou que vai processar o Estado português pela demora de 3 anos e 9 meses que já leva a investigação. Mas o seu caso está longe de ser diferente do de tantos outros. Num muito bem fundamentado trabalho da Sílvia Caneco, ficamos a conhecer outros processos, as causas da morosidade e o tempo médio, que pode conferir aqui, da investigação em Portugal. Causas e consequências para descobrir, esta semana, na VISÃO.
O circo chegou à cidade…
… E, com ele, como nos mostra a Inês Rapazote, os bombos, os cartazes e os brindes. Partidos e independentes mobilizam-se para ocupar lugares nas câmaras. A seis meses da ida a votos, o que se passa no País? Uns saem, outros voltam. Há lutas e reconciliações. E já cheira a vitória ou “ganhar” é um conceito que vai mudando com o tempo? Há de tudo: dinossauros que regressam, ex-condenados por irregularidades ou corrupção que pedem ao eleitorado uma segunda oportunidade e um imenso mundo de guerras de alecrim e manjerona, que metem zangas de família, criaturas que escapam aos criadores e uma série de vira-casacas por esse desconhecido País real… O PS já publicou uma “cartilha” para estabelecer os princípios que devem nortear as candidaturas, de que pode consultar aqui os dados essenciais. E o PSD também anuncia a sua.
França à brasileira?
Numa campanha que, ironicamente, em muitos aspetos, nos tem lembrado o que costuma passar-se no Brasil, ninguém sabe quem vai seguir para a segunda volta e acompanhar… Marine Le Pen, a candidata de extrema-direita da Frente Nacional que acaba de anunciar como primeira medida, caso seja eleita, o fecho das fronteiras. A correspondente da VISÃO em França, Ana Navarro Pedro, traça-nos, numa impressiva reportagem, o retrato fiel do que se passa no país dos gauleses e nesta louca corrida ao Eliseu, onde, segundo as sondagens, todos têm hipótese de chegar à 2ª volta. Surpresa, o candidato mais à esquerda – à esquerda, até, de Benoit Hamon, o antecipadamente derrotado do moribundo PS francês –, Jean-Luc Mélenchon, acaba de entrar no lote dos favoritos.
É mesmo verdade…
Uma frase do filósofo americano nascido em Espanha, George Santayana, abre as páginas dedicadas à diferença de tratamento entre os países da Zona Euro, numa demonstração de que o Norte, realmente, sufoca o Sul: “Os povos que não conhecem a sua História estão condenados a repeti-la.” Um continente que fez da união uma forma de prevenir a guerra, parece, com efeito, nada ter aprendido, ao longo de séculos de conflitos. Vamos aos factos: é ler a elucidativa peça da Clara Teixeira.
Muito mais do que “pop art”
No seu quarto mantém-se afixada a frase “levanta-te e trabalha!”. No ano em que comemora 80 anos de vida, a obra de David Hockney é celebrada em diversas exposições (com destaque para a que agora ocupa a Tate Modern, em Londres). Retrato de um artista que foi muito além da pop art, que se lhe colou como rótulo. Vale a pena conhecer, ou revisitar o artista, através da pena do Ricardo Nabais.
Estórias de hotéis com História
Esta semana, na VISÃO Se7e, visitámos sete hotéis que nos fazem recuar ao passado. Encontrámos histórias de reis e rainhas, de bailes faustosos e até de comícios, em lugares que hoje continuam a receber os hóspedes com o mesmo esmero de antigamente. Se gosta de imagens a preto e branco, espreite aqui. Nas restantes páginas, como sempre, terá dezenas de sugestões para ocupar os seus tempos livres, entre novos restaurantes, lojas, passeios e muitos espetáculos.
RAP ao ataque
A qualidade da opinião e da crónica é esta semana especialmente suculenta: António Lobo Antunes, Paul Krugman, Rita Rato, Miguel Araújo – e os da casa, Rui Tavares Guedes e José Carlos de Vasconcelos. Ricardo Araújo Pereira também fala do sarampo, com especial mordacidade sobre os movimentos antivacinas: “É muito fácil argumentar com médicos, mas é bastante mais difícil discutir com pessoas que fazem de médicos. As pessoas que fazem de médicos, em geral, sabem muito mais de medicina…”
“Artista” convidado, o Diogo Sardinha, que já foi jornalista e, no início da VISÃO, nosso editor de Economia. Pois hoje, além de um amigo, é um conceituado filósofo, radicado em França, que foi presidente do Colégio Internacional de Filosofia, em Paris, de 2013 a 2016. O seu último livro, de 2013, escrito em francês, tem por título A Emancipação de Kant a Deleuze. Para os nossos leitores, escreveu duas soberbas páginas sobre a situação pré-eleitoral em França. Só por isso, já vale a pena.
Boa semana e, se começar a corar muito, vá ao médico: pode não ser timidez.