Se uma árvore cair no meio da floresta, sem que ninguém esteja por perto, fará barulho? Talvez sim, talvez não, a discussão é sobretudo filosófica e está ligada ao antropocentrismo. Mas desconfio que se um jihadista do Daesh executar um ocidental sem nenhuma câmara por perto não fará barulho quase nenhum (eventualmente nem haveria execução). Esta guerra do Daesh contra o mundo e do mundo contra o Daesh é também uma guerra tecnológica: não só ao nível da sofisticação do armamento (que tem adiado a entrada de tropas no terreno), mas sobretudo ao nível da tecnologia da informação, numa sociedade viciada em imagens, em que o que não foi filmado é como se não existisse.
O Daesh sabe bem que a eficácia da sua barbárie é proporcional ao impacto mediático que atinge. Para tal, tem essa sublime preocupação, de planear os filmes das execuções de reféns com uma minúcia e qualidade técnica irrepreensíveis, propagando a sua ideologia e difundindo o terror. Para tal contam com a cumplicidade das redes sociais e dos média, que replicam os seus vídeos, sob a bandeira da liberdade de imprensa.
A propaganda, sabe-se bem, sempre foi um instrumento fundamental em tempo de guerra. Faz parte da estratégia, ao lado da colocação das tropas, do planeamento dos ataques, a propagação de um discurso ideológico. Só que, noutros tempos, tal era feito através de panfletos lançados do céu sobre territórios inimigos, ou a amplificação de sinais de rádio. Não há memória de uma guerra em que a propaganda inimiga seja livremente divulgada pelos meios de comunicação da outra frente.
Este é o cúmulo da liberdade de imprensa, ampliado na idade da histeria audiovisual no ocidente. Absorvem-se as imagens produzidas pelo Daesh de eficácia comprovada, ora a criar o terror ora a converter jovens à radicalização jihadista. A lógica de capitalismo selvagem aplicada aos media faz com que não seja aplicada uma certa ética nestes domínios.
Bruxelas deu uma lição de civismo. Perante o pedido das autoridades de não partilharem nas redes sociais imagens das operações policiais, o facebook dos belgas encheu-se de gatinhos… Siameses, branquinhos, amarelos, castanhos, pretos… Em Bruxelas, quem tem medo posta um gato..