Folguei em saber, através de uma reportagem do Expresso, que a jihadista luso-holandesa Ângela, bebe uma coca-cola pela manhã. Sempre imaginei que, nos confins do Iraque ou da Síria, o refrigerante seria substituído por uma infusão de ervas locais de sabor requintado. Na sua propaganda evidente, Ângela quis mostrar que era tratada como uma princesa, que nada lhe faltava, embora não chegasse a dizer quanto lhe apetecia um big Mac, ou porventura um happy meal. O seu marido, Fábio, também português, é um ex-futebolista, com casa em Massamá, apenas a uns quarteirões do primeiro-ministro e que, já convertido, quando visitava a família, marcava logo uma partida de futebol, invenção inglesa que se tornou moda mundial, a globalização aplicada ao desporto. Chegamos facilmente à conclusão que os jihadistas são extremistas com as armas, matam ocidentais desarmados, dizimam aldeões, mesmo que partilhem do mesmo credo. Contudo, no que toca aos hábitos alimentares e desportivos são bastantes liberais e não resistem a uma coca-cola bem enlatada.
As pequenas contradições, a fragilidade ideológica dos jihadistas ocidentais começa logo pela base. A utilização do Facebook e do Twitter é quase por si só um contrassenso. Rendem-se à eficácia das ferramentas globais, criadas pelo americanos seus inimigos, assim como não hesitam em usar armas de fabrico americano na sua selvajaria. O Facebook, o Twitter, o Youtube têm que ver com um modo de pensar e de estar global ocidentalizado, de que eles não abdicam. Coabitam as necessidades de comunicar e exterminar o mundo ocidental. Aniquilem-se todos os americanos, sejam eles jornalistas ou membros de ONG, mas salve Mark Zuckerberg e a fábrica da coca-cola.
As redes sociais, no seu moralismo bacoco, veem-se apanhadas em contrapé. Já alguém disse que no Facebook é mais fácil publicar uma decapitação do que o corpo de uma mulher nua. As redes sociais, especialmente o Facebook, o Youtube e o Twiter, continuam a ser veículo de propaganda e divulgação de crime em alta escala. E ainda não sabem como lidar com a situação, que é algo embaraçosa. Tal como muitos outros jovens, Ângela conheceu o marido na internet. Hão de ter falado de como era fixe matar infiéis, de como era boa a vida no deserto. Conversa puxa conversa e marcaram um meet lá para o Médio Oriente. Tornaram-se uma espécie de Bonnie & Clyde da jihad. Mas é ele que dispara. Ela fica em casa a lavar os tachos e a limpar o sangue.