Os adolescentes não gostam de telemóveis touchscreen, pois nesses não conseguem sentir as teclas e assim torna-se impossível enviar mensagens sem ver, seja no ‘escurinho’ do cinema, seja por baixo da secretária na sala de aula. Uma habilidade motora extrema, aliada a uma notável capacidade de memorização, permite-lhe escrever mais rápido do que uma datilógrafa de média. Fixaram e apreenderam que três toques na tecla dois resultam num C e, por aí em diante, para todo o alfabeto. É o QWERTY a que têm direito, bastante mais complexo que os teclados de computador. Por isso, que se desfaçam as ideias feitas, nunca se escreveu tanto como hoje em dia. E quem mais escreve são os adolescentes. Passam o dia a escrever. Escrevem mais do que os pais e avós faziam quando tinham a idade deles. Escrevem e leem. É um paradoxo difícil de suportar para quem quer chamar a esta geração semianalfabeta ou iliterada.
Nunca se escreveu tanto e, eventualmente, nunca se escreveu tão mal. Em SMS e afins os adolescentes usam uma estenografia particular, inventada por cada um, com o propósito de acelerar a comunicação. Há uma permanente urgência, um imediatismo, que contradiz com a relativa leveza das suas responsabilidades; ou seja, apesar de não trabalharem nem terem de cuidar dos filhos, por algum motivo, precisam de respostas rápidas para assuntos relativamente pouco importantes e nada urgentes. Urgente é a comunicação em si e não o assunto. Isto traz grande valia, que não haja dúvidas, sobretudo um grande desenvolvimento psicomotor e da capacidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, porque o envio permanente de mensagens não impede, necessariamente, que realizem outras atividades. Simultaneamente há uma curiosa mudança de paradigma: aproximam-se de quem está fisicamente distante, ao mesmo tempo que se afastam de quem está próximo. Um aparente contrassenso em que nos coloca todo o universo virtual.
Têm razão os céticos que esta escrita frenética é um gesto radicalmente diferente da outra. O estou cá estou lá não permite o desenvolvimento das ideias, de um pensamento, de um enredo. Nesse sentido, é uma escrita extremamente próxima da oralidade. Fica a meio-caminho. É uma forma híbrida de comunicar, a que até se juntam alguns símbolos, que resumem estados de alma. É uma escrita de conveniência que faz de tudo para ser oralidade e que, enquanto escrita, está nos antípodas da literatura. Contudo, não deixa de ser mais profunda e desinibida do que a linguagem oral. Como dizia Manuel António Pina: “Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, calma é apenas um pouco tarde”.