México, 86. A Argentina defronta a Inglaterra, em plena Guerra das Malvinas. Maradona finta metade da equipa britânica e ainda tem força para empurrar a bola para dentro da baliza. E, lá para o final, meteu mais um golo com a ‘mão de Deus’. A equipa de Sua Majestade viu-se humilhada num jogo contra o inimigo. Maradona tornou-se o primeiro Deus argentino. França, 98. O Irão nem sequer passa da primeira fase, mas a prova foi superada pois alcançou uma glória maior: derrotou os Estados Unidos, o grande Satã, por 2-1. Inglaterra, 66: Portugal defronta a Coreia do Norte. Está a perder por 3-0, mas dá-se um revês e consegue ganhar por uns históricos 5-3. A potência fascista derrota a potência comunista. Futebol não é política, mas às vezes não estão em jogo apenas duas equipas.
A final da Liga dos Campeões, entre o Chelsea e o Bayern de Munique, não passou ao lado da cimeira do G8. Circulou pelas redes sociais uma fotografia que ilustra bem as emoções que o futebol gera ao mais alto nível. David Cameron, o primeiro-ministro inglês, aparece de braços erguidos, comemorando um dos penáltis convertidos pela equipa londrina. Angela Merkel, por seu lado, com um ar ríspido, não consegue disfarçar a desilusão. Barak Obama tem o comportamento típico americano: aquele jogo não lhe interessa para nada, mas ainda assim faz a festa. François Hollande, por seu lado, aparece sentado a um canto, a olhar extremamente aborrecido para o televisor – provavelmente nem sequer gosta de futebol, e a sua mente já divergiu para os obstáculos ao crescimento económico na Zona Euro. Mas mais enigmática é a postura de Durão Barroso, agarra as costas da uma cadeira com uma tensão impressionante. É um gesto que indica contenção: nitidamente está a torcer por uma das equipas, só que, enquanto presidente da União Europeia, não lhe fica bem mostrar a sua satisfação ou desagrado.
Neste Europeu parece estar tudo em jogo. Foram apurados quase todos os países que têm estado em foco no xadrez europeu e alguns importantes outsiders. Alemanha, Grécia, Portugal, Irlanda, França, Espanha, Itália, Inglaterra. Estão todos lá, no G16 do futebol europeu. Se a Alemanha defrontar a Grécia terá um sentido bastante mais profundo do que um mero jogo de futebol ou a brincadeira dos Monty Python do desafio dos filósofos. Torcerei pela Grécia. E também torcerei por Portugal: o futebol é uma das raras oportunidades para ganhar à Alemanha. Mas, se calhar, por cá, há quem esteja pelos alemães, só para não ferir a suscetibilidade da senhora Merkel.