Quando, há um ano, Máximo Francisco, então apenas com 19 anos, lançava Greatest Hits, uma seleção pessoal de 12 faixas, compostas entre os nove e os 19 anos, parecia mentira. Para a maioria, pelo menos.
Para todos aqueles a quem, por alguma razão, tinha escapado a noite de 2017, em que o jovem músico partilhara o palco do CCB com nomes como Xinobi, The Legendary Tigerman, Jibóia e Sequin, ou o dia em que, dois anos mais tarde, tocara na Fundação Joana Vasconcelos, durante a ARCOlisboa, ou ainda as seis composições realizadas a convite do artista plástico Paulo Lisboa, a partir de obras daexposição Um esqueleto entra no bar… patente, em 2021, na Fundação Leal Rios.
Certo é que, dúvidas houvesse, foram dissipadas a 9 de março de 2023, no Lux, em Lisboa, durante o concerto de lançamento de Greatest Hits, primeiro álbum a solo de Máximo Francisco.
Apesar do sucesso, as melodias calmas apresentadas nessa noite, em alguns casos ainda um pouco semelhantes entre si, estavam longe de serem a melhor versão do músico. Desde então, cresceram, maturaram, encheram-se de harmónicos, ganharam acompanhamento de bateria e baixo elétrico, bem como ritmos que as distinguem claramente umas das outras.
Em apenas 365 dias, Máximo Francisco, atualmente a terminar os estudos superiores em Composição de Jazz na Codarts Rotterdam, nos Países Baixos, compôs, gravou e lançou Pangea.
O álbum de seis músicas, uma das quais conta com a voz de Selma Uamusse, apresentado em outubro deste ano no Vago, em Lisboa, é um grito musical de alerta para a “eco-ansiedade” que o artista confessa sentir em si e em muitos dos seus contemporâneos, perante “a ameaça de extinção total” do meio ambiente, o qual afirma ter retratado “musicalmente de uma forma quase impressionista, não-linear e sensorial”.
Máximo Francisco conversou com o JL sobre o conceito por detrás do novo álbum, dos planos para o futuro e das fontes de inspiração que o impelem a avançar neste caminho, já tão sólido, ainda que recente, no mundo da música profissional.
Apesar de ter passado apenas um ano entre Greatest Hits e Pangea, sentes que existem diferenças nas paisagens sonoras que criaste num e noutro?
Sim. Passou só um ano, mas aprendi muito com este novo álbum por causa da licenciatura que estou a tirar, que me ajudou a progredir e a criar novas sonoridades. O Pangea é mais dinâmico, as composições têm mais energia e, ao contrário do que acontecia no primeiro álbum, não é só piano.
Além disso, enquanto ali o conceito era ser um Greatest Hits da minha carreira que ainda não tinha começado, agora é apelar ao combate às alterações climáticas e a uma sociedade coletiva, livre de eco-ansiedade, e capturar o ciclo anual num álbum, ou seja, quem está a ouvir pode passar por todas as estações.
Exato, quatro das seis faixas têm o nome das estações do ano. Inspiraste-te, de alguma forma, na maneira que Vivaldi encontrou de sentir essas mesmas estações?
Estudei música clássica desde pequeno e, como é óbvio, já ouvi as Quatro Estações, mas em termos musicais não foi uma inspiração. A inspiração veio mesmo do facto de eu gostar desse conceito de transformar algo que é inerente às nossas e vidas e que não controlamos, como o passar do tempo, neste caso a passagem de um ano, e transformar isso numa experiência musical. Sou muito influenciado por outros artistas que têm esta ideia nos seus álbuns, que criam uma experiência em que as músicas estão todas ligadas.
Além de contares com outros instrumentistas, em Pangea há também uma música em que dizes algumas frases. É algo que queres continuar a fazer no futuro?
Essa faixa, o Winter, foi incrivelmente intimidante e difícil para mim, porque é algo que não estou habituado a fazer. Em certas alturas estava mesmo desconfortável, tanto a escrever como a fazer aquela espécie de spoken word. Mas ainda bem que o fiz, talvez no futuro faça mais. Desta vez senti que havia necessidade de ter algum texto no álbum e esta foi a minha maneira de fazer acontecer.
Outra novidade é a colaboração com a Selma Uamusse, na música Suspiro. Como surgiu?
Conhecemo-nos num evento na Fundação Champalimaud, em que toquei uma versão dos Verdes Anos, com um arranjo meu. Sempre tinha querido fazer uma música com a Selma, convidei-a e ela aceitou. Inicialmente devíamos fazer a música Spring juntos, fomos a estúdio em janeiro de 2024, só que não ficamos contentes com os resultados dessa sessão.
Como estou a viver na Holanda, não conseguimos combinar outra, por isso, com o material que gravamos, com a voz dela, comecei a experimentar e foi então que encontrei aquela forma como Suspiro começa. Fiquei maravilhado com o resultado e, a partir daí, fiz a música em dois dias.
Porquê o nome Pangea?
Pangea foi um super-continente que existiu há 200 milhões de anos e que unia todos os continentes, como os conhecemos hoje em dia, numa só massa biológica. Pareceu-me uma boa metáfora para a representar a necessidade de uma sociedade coletiva e unida no combate às alterações climáticas, e uma certa eco-ansiedade que eu próprio também sinto já há alguns anos.
Apesar de, em Winter, dizeres que “o futuro é obscuro”, pensas em regressar a Portugal depois da faculdade?
Tenho pensado bastante nessa questão, porque acabo a licenciatura este ano. Apesar de o futuro ser obscuro, tenho na mesma família e amigos em Portugal, portanto, em princípio irei voltar. Quero estar ativo também lá fora, sobretudo na Europa. Digo na Europa, e não o mundo inteiro, porque, no futuro, uma coisa que quero mesmo fazer sempre menos e menos é andar de avião, optando pelo comboio.
E para 2025 já há concertos marcados?
A 6 de fevereiro toco num tributo ao Carlos Paredes, no CCB, juntamente com outros músicos, e, no final desse mês começo também a tour para promover o Pangea.