JL: Como surgiu a ideia desta parceira?
André Barros: Começámos a tocar juntos em 2015, quando ambos integrávamos a primeira parte do breve concerto de abertura de Rodrigo Leão, no Coliseu do Porto. Começámos então a compor temas em conjunto, até que nos apercebemos que já tínhamos material suficiente para fazer um álbum.
Foi fácil chegarem a um consenso musical?
AB: Eu trouxe as minhas ideias, o Tiago as dele e rapidamente vimos que tínhamos uma química ao piano. Tocar era algo que íamos fazendo esporadicamente, e dado que somos da mesma zona, é fácil estarmos juntos para começarmos a criar.
Tiago Ferreira: Completamo-nos um ao outro. O estilo do André é música de cinema, enquanto eu sou mais do estilo do jazz, embora tenho estudado clássica. Discutimos as ideias e aceitamos bem as críticas um do outro.
O que acham que esta colaboração trouxe de novo para o vosso processo criativo?
AB: Sinto que o que pode ser interessante neste álbum é a questão do estilo. Quem conhece o meu trabalho sabe que me foco, sobretudo dentro da música instrumental, num estilo mais isolado, o neoclássico. A combinação com o estilo do Tiago, que é claramente mais jazzístico, acaba por resultar numa fusão interessante e fora da caixa. Obviamente, não criámos um novo género de música.
Onde se inspiraram para fazer o álbum?
AB: Desde o início do processo de criação não me recordo de falarmos de qualquer referência de outros autores ou até de eventualmente do que pudesse estar na moda. Do meu lado tenho influências que me trazem ideias para determinadas melodias ou determinados contextos harmónicos, como Ólafur Analds, mas estas nunca foram uma premissa para a criação.
TF: Há sempre uma ideia que sai quando estamos sentados ao piano, gravamos com o telemóvel e a partir daí vamos moldando assim como se molda uma peça de barro.
Por que chamaram ao álbum Afloat?
AB: Afloat é uma sensação de pairar, de estar sobre algo sem estar em algo concretamente. Tal transmite a ideia de cruzamento entre estilos e géneros musicais. E também entre países, dado que foi tudo composto em Portugal, mas acabámos por fazer toda a produção na Islândia.
Porquê a Islândia?
BA: Estagiei três meses na Islândia como assistente técnico de som, em 2015, e desde então que tenho ido lá todos os anos gravar alguma coisa. Pensei de imediato neste estúdio, uma vez que somos dois pianistas era importante ter uma panóplia de instrumentos para trazermos uma sonoridade diferente e enriquecer os temas.
TF: Estivemos apenas dois dias na Islândia, mas sem dúvida que o que mais me marcou foram as paisagens, tão distintas de Portugal. É uma harmonia muito inspiradora para compor e um local que permite explorar a vertente criativa.
Muitos dos sons que o André cria são usados em audiovisuais. Vocês fizeram este álbum a pensar em imagens?
AB: Neste disco em particular não houve qualquer preocupação a esse nível. Foi pelo puro prazer de criarmos em conjunto e, eu em particular, ver aquilo que o Tiago conseguiu trazer para a minha música. O Tiago é um génio, um músico muito criativo.
Esta colaboração é para ser repetida?
AB: Vai acontecer, mas não temos prazo e não estamos preocupados com isso.
TF: Para já o plano passa por dar alguns concertos. Quiçá mais à frente gravamos outro disco.