JL: É uma música em que juntas variadas referências, sobretudo femininas, que é pretexto para falarmos de uma sociedade que ainda é muito machista. O meio do hiphop também é muito masculino. Sentiste mais dificuldade de afirmação por seres mulher?
Capicua: É precisa muita autoestima para nos integrarmos num boyclub, mas a partir do momento em que conseguimos quebrar a barreira inicial acabamos por gozar de algumas vantagens, porque sendo poucas ganhamos mais visibilidade. Contudo, depois de nos afirmarmos, torna-se novamente complicado… tentam pôr-nos à parte. Portanto, sim, como em todos os contextos muito masculinos – como a política, o desporto de alta competição, a chefia de grandes empresas – é preciso bastante persistência e segurança para contornar o pequeno machismo simulado. Não nos chega ser boas, temos que ser muito boas naquilo que fazemos.
E levaste tudo isso para a tua música…
Não é só pela minha experiência pessoal que as questões de género são importantes. Como todos os Direitos Humanos têm que estar na ordem do dia. É uma das lutas que é mais descredibilizadas e ridicularizada. Até hoje continua o mito da histeria. No geral, o facto de uma mulher afirmar o seu talento e opinião, sem ser decorativa, é por si só subversivo. Quando conseguimos acrescentar um conteúdo que faz pensar torna-se ainda mais poderosos.
A música para mim sempre esteve associada a uma ideia de discurso. Nos discos que os meus pais ouviam, do Zeca Afonso, do Fausto, do Sérgio Godinho, a música não era só um objeto estético, era ferramenta, megafone. Identifiquei-me com o hiphop por isso. Além de que, não tendo eu a voz do Fausto nem do Zeca, o rap permite-me fazer música sem saber cantar. Se essa é a minha forma de ver a música, é natural que as causas que me são mais próximas ganhem protagonismo.
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