Com a proximidade do mês de Setembro, as feiras do livro de Lisboa e Porto configuram uma autêntica rentrée antecipada, com vários lançamentos de peso a chegarem às livrarias e aos pavilhões do Parque Eduardo VII e do Jardins do Palácio de Cristal. Na capital, a feira, que se inaugura amanhã, 25, e se prolonga até 11, destaca-se por ser a maior de sempre. Na invicta, com a mesma data de encerramento mas a começar um dia mais tarde, a 26, homenageia-se a poeta Ana Luísa Amaral, recentemente falecida, numa programação cultural dedicada ao tema “Imaginar e Agir” e com contornos de festival literário.
Além do romance Apoteose dos Mártires, de Mário Cláudio, capa desta edição do JL, e do livro de memórias e crónicas de Pilar del Río, que conta os dias de Lanzarote de José Saramago (ver pré-publicação na p. 6), muitas são as novidades esperadas para os próximos dias. A Tinta-da-China, por exemplo, lança Aspectos do Legado Pessoa, com ensaios de Fernando J. B. Martinho, e o novo e muito aguardado romance de Jaume Cabré, Consumidos pelo Fogo. Na Companhia das Letras, novo romance de José Gardeazabal, Quando Éramos Peixes. Na Porto Editora, a mais recente ficção de Carlos Vale Ferraz, de O Gémeo de Ompanda. Na poesia, antologias da poesia lírica do século XIX, O Outono de Oitocentos, um trabalho de Margarida Vale de Gato, e de Pessoa, esta organizada por Nuno Amado. Outros lançamentos serão anunciados brevemente.
Em Lisboa, a Feira do Livro apresenta-se no seu novo figurino. Todo o espaço foi repensado, nomeadamente nas suas acessibilidades, e os stands substituídos, sendo agora feitos com materiais recicláveis e construídos em módulos. O objetivo, adianta a APEL, responsável pela organização, é reforçar a sustentabilidade. Até porque a Feira de Lisboa continua a crescer. A 92.ª edição terá 340 pavilhões, mais 10 do que a do ano anterior, referentes a 140 editores e livreiros.
Outra aposta forte da APEL são as iniciativas culturais que também tem vindo a aumentar de ano para ano. Ao contrário da do Porto, estas não têm um programador comum, sendo antes da responsabilidade de cada editora. Segundo a organização, os pedidos de reservas de auditórios são, no entanto, elevados, antecipando-se quase dois mil eventos. Alguns contarão com a presença de autores internacional, como os já anunciados Arturo Pérez-Reverte, Carmen Posadas e Rosa Montero.
Programação própria, sobretudo ao nível da sétima arte, terá a Ucrânia, que assumira o estatuto de país convidado desta edição. Além de vários livros em ucraniano e em tradução, haverá também espaço para a ilustração do país.
Com a expectativa de ultrapassar os 500 mil visitantes de 2019, os espaço de lazer e de restauração também foram reformulados, com mais zonas de descanso e lazer.
Imaginar e agir no Porto
“Assumimo-nos como um festival literário, diria mesmo um festival cultural. A poesia é a arte da partilha, uma promessa de futuro, e dedicamos esta edição à poesia como força transformadora”. Assim definiu Nuno Faria a edição deste ano da Feira do Livro do Porto. E assim se explica, para o diretor artístico do Museu da Cidade, que também coordena a programação cultural (a organização é do município), o tema proposto para este ano: Imaginar e Agir.
Pensada também como uma grande homenagem em vida, a Feira será a primeira evocação de Ana Luís Amaral, recentemente falecida. Na apresentação da iniciativa, no passado mês de junho, a poetisa e professora universitária mostrou-se honrada pelo convite. “Nasci em Lisboa, cresci em Sintra, vim para o norte e ao início detestei”, brincou. “Mas o Porto é a minha cidade, a cidade que me acolheu, uma cidade maravilhosa”. No dia 27 uma tília passará a ter o seu nome.
As homenagens a Ana Luísa Amaral decorrem, aliás, no primeiro fim de semana da feira. Também a 27, sábado, às 16, no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, exibição do documentário Entre Dois Rios e Outras Noites, de Nuno F. Santos e João Nuno Soares, com uma viagem pelos lugares e pequenos ofícios da escritora. Depois, “O Som que os versos fazem ao abrir”, com Rosa Maria Martelo, Isabel Pires de Lima, Teresa Coutinho, Nuno F. Santos e Luís Caetano numa conversa a amiga e a criadora. No fim, leitura de poemas por Teresa Coutinho. A 28, às 11 e 30, na mesma biblioteca, apresentação de O Olhar Diagonal das Coisas, o volume que reúne a obra poética de Ana Luísa Amaral, com Isabel Pires de Lima, Rosa Maria Martelo, Pedro Serra e Joana Matos Frias. À tarde, a partir das 16, uma conversa sobre tradução, uma das suas paixões, com Livia Aya, Lauren Medinueta, Catherine Dumas e Marinela Freitas. A fechar, uma leitura de poesia por Isaque Ferreira, a partir das 17 e 30.
De menor escala, quando comparada com a de Lisboa, a Feira do Livro do Porto destaca-se efetivamente pela coerência da sua programação cultural, que este ano inclui debates, lições, oficinas, concertos, sessões de cinema, exposições, leituras, oficinas para os mais novos e uma parceria com a Feira da Alegria (mercado de edição, transumância gráfica e escatologia comercial).
Entre outras propostas, destaquem-se as lições, sempre na Biblioteca Almeida Garrett, de Osvaldo M. Silvestre (História(s) do Brasil – a 9 de setembro, às 18); Alva Martínez Teixeiro (Penas obscenas – a 10, às 11 e 30); e Luca Argel (Olha para o dia de ontem chegando canção popular: guardiã da memória – a 11, às 11 e 30).
Os concertos, selecionados por Luís Salgados dos Maus Hábitos, contam com Azia / Redoma (a 26, às 19); Aldina (a 31, às 21); Manuel João Vieira (a 1 de setembro, às 21); Adufes & Pandeiros / Unsafe Space Garden (a 8 de setembro, às 19); ou Filipe Teixeira Trio (a 10 de setembro, às 21 e 30).