Depois de O Verão de Todos os Silêncios, Damas, Ases e Valetes, A Vida Dupla de Maria João e A Paixão de Ana B., a autora lança o quinto romance no festival literário Correntes d’Escritas (dia 20, às 17 horas), onde é já presença habitual.
Licenciada em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi professora, durante mais de três décadas, em Castelo Branco, coordenadora do Centro de Área Educativa, presidente da Comissão Distrital de Proteção de Menores, candidata a deputada pelo Partido Socialista, vereadora da cultura e coordenadora do Gabinete para a Igualdade. Atualmente, vive em Lisboa e dedica-se inteiramente à escrita e à tradução.
Jornal de Letras: De que trata esta Teoria dos Limites?
Maria Manuel Viana: É a história de um escritor, com maiúscula, muito conhecido, eterno candidato ao Nobel e vencedor de muitos prémios literários, que morre. Os familiares e amigos mais próximos não sabem se ele acabou o livro que tinha em mãos, e de que falava muito. Um livro que tinha como ponto de partida uma interrogação de Leibniz: “Em que medida o mal é justificável?”
Esse livro ‘imaginário’ tem um papel importante na narrativa?
Sim. O escritor ‘tropeça’, certo dia, em Leibniz e fica fascinado porque o filósofo coloca uma questão que o obceca desde sempre: a importância do ponto de vista, da pluralidade de perspetivas, da construção de um todo a partir de várias partes, ou de várias personagens, no caso da Literatura, que é o que interessa ao escritor. Este passa a ser o tema das conversas e dos monólogos interiores das pessoas que estão no seu enterro.
O que a interessou nessa ideia de fragmentação?
Tal como o escritor, também eu ‘tropecei’ em Leibniz por mero acaso e interessou-me essa ideia de uma história poder mudar consoante a testemunha, o que ela vê, entende, e sobretudo pela forma como a conta. Do ponto de vista literário, é um exercício absolutamente fascinante porque permite uma pluralidade de perspetivas sobre o mesmo assunto. E pensarmo-nos dentro de personagens tão diferentes – em termos de idade, género, educação, religião, etc. – é extremamente desafiante.
Apesar do escritor estar morto, o romance gira em torno dele… É também um livro sobre o poder da escrita?
Se eu tivesse que escolher o tema do livro, diria que era exatamente esse: a importância da Literatura. E uma questão que se põe a todos os escritores: a Literatura é tradição ou ‘plágio’? Borges dizia que havia dois grandes temas na Literatura, o amor e a morte ou a guerra e a morte. Ao longo de nove séculos, caímos sempre nos mesmos temas, o que nos leva a perguntar se já não terá sido tudo dito. Como descobrir outra maneira de contar a mesma história?
Pensou em algum escritor em particular para construir esta personagem?
Não. Embora no fim do livro agradeça a contribuição involuntária de Enrique Vila-Matas. Não foi tanto ele, enquanto pessoa, que me ‘inspirou’, mas sim os textos que escreveu sobre o papel do escritor e da Literatura.
Carolina Freitas