Numa ‘ligação’ publicada no Facebook do JL, meia dúzia de seguidores insurgiu-se violentamente contra a utilização do verbo transitivo ‘resignar’, julgando que se tratava de um anglicismo ou de uma má tradução do inglês. Por desconfiarmos que esta dúvida linguística possa ocorrer a outros leitores, considerámos pertinente esclarecer a questão. “Resignar”, utilizado na aceção de demissão ou renúncia, é inequivocamente correto, não se tratando de um anglicismo. Não existe sequer qualquer polémica a nível de linguística, uma vez que todos os dicionários de referência de língua portuguesa, do século XIX até à atualidade, estão de acordo. Entre outros, o António Morais da Silva, Academia de Ciências, Houaiss, Lello & Irmão, Laudelino Freire, Porto Editora… Em nenhum dicionário de referência, de ontem e de hoje, o verbo transitivo ‘Resignar’ é descrito como anglicismo ou estrangeirismo. A palavra é portuguesa de pleno direito e o facto de em inglês existir uma palavra semelhante não deve ser impeditivo de a utilizarmos. Tal seria insólito e um injustificado empobrecimento léxico. Por absurdo, nessa transviada linha de pensamento, deveríamos abdicar de outros vocábulos com grafia semelhante na língua inglesa, como ‘projeto’, ‘ideia’ ou ‘questão’. E, para terminar esta falsa questão, transcrevo a entrada “Resignar”, tal como aparece no Grande Dicionário da Língua Portuguesa António Morais da Silva
Resignar, V. T. (do lat. resignare) – Efectuar a resignação de; renunciar a; ceder por demissão ou renúncia; demitir-se voluntariamente: “o bispo… insinuado em Setembro de 1823 para resignar o bispado, achou a instância tão conforme ao seu desejo, que… renunciou a mitra” (Latino Coelho, Elogios Académicos, 140; “Meu pai… foi… resignando em suas mãos, primeiro a direcção espiritual de minhas irmãs, depois o governo da casa…” (Aloísio Azevedo, Grândola de Amores)
(Grande Dicionário da Língua Portuguesa António Morais da Silva, vol. IX, 10ª edição, 1949)