Arquitetos, críticos, historiadores e sociólogos portugueses e estrangeiros vão refletir sobre 74-14 – O SAAL e a Arquitetura, um colóquio a 14, 15 e 16, no CES da Universidade de Coimbra. É o culminar de uma evocação do histórico Serviço Ambulatório de Apoio Local (a que dedicamos o tema da passada edição), uma “obra aberta”, como adianta ao JL o arquiteto e professor universitário José António Bandeirinha – doutorado com uma tese sobre o SAAL -, comissário do colóquio em que irão estar na mesa os contributos desse processo para a arquitetura portuguesa. Haverá ainda sessões nos bairros SAAL, nomeadamente na Relvinha, onde será lançado o projeto de um centro cultural, da autoria de João Mendes Ribeiro, resultante de um workshop de estudantes e moradores, quando Coimbra foi Capital Nacional da Cultura, e uma visita à exposição patente no Museu de Serralves
Jornal de Letras: O que se pretende com este colóquio?
José António Bandeirinha: O objetivo é relançar os estudos sobre o processo SAAL, num plano académico, quer numa perspetiva de operatividade contemporânea, quer a nível histórico. E julgo que tem nesse sentido muito para nos dar. Interessa-nos debater quatro aspetos.
Sendo o primeiro a própria arquitetura portuguesa…Vamos refletir sobre o final do séc. XX e a enorme importância do SAAL para o lançamento internacional da nossa arquitetura, embora ela já antes tivesse os seus momentos de qualidade. Noutra sessão, iremos abordar a autonomia da arquitetura que se coloca no plano político. E aí, o SAAL, pelas suas condições radicais de encomenda, um triângulo que envolvia os moradores, o Estado e os arquitetos, permite uma discussão fundamental.
Também o aspeto da inclusão?O SAAL é um ponto importante, porque as pessoas desses bairros passam a ter o direito à habitação, muitas à cidade, e também à arquitetura. Por isso, podemos falar de uma arquitetura inclusiva. E transrelacional, o quarto aspeto de reflexão.
A experiência do SAAL pode ser útil contemporaneamente?Sem dúvida, embora como todas as lições da História não possa ser aplicada linearmente. Podemos retirar coisas essenciais para o que deveria ser uma política da habitação no Portugal contemporâneo. Hoje colocamos as pessoas em bairros de realojamento, porque achamos que as condições são melhores do que aquelas em que viviam. Isto é sobretudo para aliviar as nossas consciências, enquanto nesse processo eram os moradores que conquistavam as suas casas. Foi também muito importante que tivesse sido, logo após o 25 de Abril, um despacho tão perfeito e aberto como o de Nuno Portas, o primeiro secretário de Estado da Habitação, outro ensinamento, quando temos agora programas muito rígidos.
A abertura é para si o essencial do processo?
Não, são as casas, o sorriso das pessoas quando lá entravam, a que assisti, enquanto estudante. Com todo o boom da habitação sobretudo nos anos 90, não se conseguiram fazer pedaços de cidade tão bons como alguns desses bairros do SAAL que eram para pessoas muito pobres. E tomara muitas zonas habitacionais da classe média e alta hoje terem aquela qualidade urbana.