Qual a fórmula para um casamento perfeito? Como funciona o Google? Qual a verdadeira contribuição da Matemática para a crise financeira em que vivemos? São algumas das questões abordadas em Casamentos e Outros Desencontros a mais recente obra de Jorge Buescu, 47 anos, professor associado de Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Doutorado na Universidade de Warwick, é um apaixonado pela divulgação matemática sendo autor de O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias ou Da Falsificação de Euros aos Pequenos Mundos. Com este volume Buescu pretende mostrar que a Matemática está muito mais presente no nosso dia-a-dia, do que à partida se poderia pensar.
JL: O título do livro é no mínimo curioso. Afinal, a solução para um casamento feliz está na Matemática?
Jorge Buescu: Não, está nas pessoas (risos). Mas, de facto, o título inspira-se num dos capítulos do livro. Conto pequenas histórias, relativamente curtas, mas muito objetivas sobre Matemática. Uma das histórias é precisamente um teorema chamado Casamento Estável, cujo resultado matemático mostra que é possível pegar num grupo de N homens e N mulheres e casá-los segundo as suas preferências relativamente ao outro grupo. Cada membro de um grupo prefere outro do outro grupo em primeiro lugar, depois outro e outro ainda. É sempre possível arranjar uma maneira, e isso é que é notável, de fazer um conjunto de casamentos estáveis, em que ninguém tenha a tentação de trair, porque isso é sempre menos apetecível.
Parte de exemplos muito concretos nos quais a Matemática tem um papel primordial no dia-a-dia. O que pretendeu com esta obra?
Muitas pessoas têm a ideia de que a Matemática é algo que está cristalizado num conjunto de resultados que estão na prateleira e que quando são necessários vão-se lá buscar. Mas passa-se exatamente o contrário. A Matemática é feita hoje de uma forma muito mais exuberante do que alguma vez na história da humanidade. Estão em atividade mais matemáticos do que em qualquer período. Tento explicar que tem aplicações espantosas no dia-a-dia de todas as pessoas. Quando fazemos pagamentos on-line, quando usamos o Google. A grande vantagem deste motor de busca surgiu, quando os seus fundadores, dois alunos de doutoramento, abordaram o problema pela primeira vez de um ponto de vista matemático. Explico qual a matemática que utilizaram, que nem se quer é extraordinariamente difícil, mas deu-lhes um poder de tal ordem que, em poucos meses. esmagaram a concorrência.
Que conselhos dá aos professores de Matemática, nomeadamente no ensino Básico e Secundário, para incentivarem os seus alunos para a disciplina?
Entusiasmo. É minha convicção de que é a coisa mais importante que um professor deve ter. E a maneira mais genuína de entusiasmar para a Matemática é mostrar como um problema se relaciona com outro aparentemente muito distinto, e ainda com outro. É preciso também conhecer a fundo a matéria.
E aos alunos, para que aprendam a gostar dela?
Normalmente na primeira aula digo aos alunos aquilo que ouvi a um antigo professor meu: a Matemática é como o sexo, só se aprende com a prática.