“A última vaga” assim se chama o ciclo final do FILMar, projeto da Cinemateca, que restaurou e digitalizou cerca de 180 obras. Cem vão circular, até ao final de abril, por cineclubes, cineteatros e museus. O JL falou com Tiago Bartolomeu Costa, o coordenador do projeto.
JL: O que é o FilMar?
Tiago Bartolomeu Costa: É um projeto desenvolvido pela Cinemateca e acompanhado por um programa de financiamento. De fevereiro de 2020 até a abril deste ano, tem-se dedicado a identificar, preservar, digitalizar, recuperar e divulgar o património fílmico relacionado com o mar. Disponibilizamos novas cópias digitais para filmes que só existiam em analógico.
Em que consiste esta última vaga?
Dos 180 filmes, correspondentes a 10 mil minutos digitalizados, vamos levar uma centena a 35 lugares, um pouco por todo o país.
O mar é muito abrangente, como escolheram as obras a restaurar?
Esta abordagem ao mar é muito transversal. Não se ficou apenas na pesca. Muitos dos filmes retratam fluxos migratórios, desenvolvimento industrial, práticas sociais e comunitárias, a própria representação do país no Estado Novo, os filmes censurados.
O que mais vos surpreendeu?
O programa ajudou a revelar curtas-metragens de realizadores importantes que começaram por filmes institucionais em que o mar está presente, como José Fonseca e Costa, António Macedo ou Afredo Tropa. Por exemplo, descobrimos a filmografia de António Campos. Podermos inscrever na história de cinema realizadoras como a Raquel Soeiro de Brito, que teve um papel muito importante, mas que nunca foi revelada, em parte por ser mulher. Ou filmes que nunca tiveram estreia, como o Catembe, de Manuel Faria de Almeida.
Augusto Cabrita merece uma atenção especial, com uma exposição que inaugura agora em Marvila, e a recuperação das suas curtas e de As Ilhas Encantadas, filmes de Carlos Vilardebó com fotografia sua.
Ele colaborou na equipa técnica de As Ilhas Encantadas e o seu trabalho enquanto fotógrafo ajudou a mudar a imagem da Amália. No Curtas de Vila do Conde já tínhamos apresentado esta exposição para assinalar o centenário. Inclui um conjunto de imagens inéditas, encontradas no espólio da família, e mostra o processo de seleção do próprio através de provas de contacto. Isto além de materiais relativos a filmes do Augusto Cabrita que digitalizámos, programas de estreia e as próprias câmaras.
O que vai ficar do FILMar?
Há algo muito importante que é um laboratório de digitalização de filmes, com uma equipa que vai continuar a trabalhar. Além disso vão ser feitas edições em DVD de algumas obras. E a partir de agora estes filmes poderão ser exibidos a pedido de distribuidores e exibidores.
E depois do FILMar? Quais são os próximos projetos?
Há um projeto de digitalização do património fílmico no seu conjunto, decorrente do PRR, que tem o objetivo de abranger todo o arquivo da Cinemateca até 2026 .