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Gabriel Garcia Marquez é isto, tudo isto: o calor improvável de Aracataca, aonde se chegava numa lancha a motor, através de um pantanal de águas turvas; o seu avô alcaide que quando lhe perguntavam porque ia na terceira classe dos comboios respondia: porque não há quarta; a corte das tantas mulheres da família e da criadagem que lhe pastoreavam a infância e lhe criaram um “fio de comunicação secreta com elas”, muito mais do que com os homens; um dicionário, o primeiro livro que o avô lhe deu para as mãos, e que ele leu como se fosse um romance; o estudante de Barranquilha, a cidade dos ventos alísios que até as galinhas levava, e que em Bogotá se envolvia em discussões que admitiam pancadaria por causa de Faulkner; o jovem que acreditava que “a poesia é a única prova concreta da existência do homem”, que venerava o poeta romântico colombiano, José Silva, suicida com um tiro no circulo de iodo que o médico lhe desenhou no sítio do coração; o leitor que lia nos livros a sua “carpintaria técnica” e acreditava profundamente na supremacia do conto sobre o romance e nada nunca o impressionou tanto como o escritor mexicano Juan Rulfo e a Metamorfose de Kafka ; o ainda repórter, mas já romancista que tornou uma reportagem sobre um naufrágio real num livro admirável (Relato de um Náufrago, 1955); o entrevistado que em milhares de entrevistas de que “foi vítima” nunca se convenceu da sua eficácia: “apenas fantasias sobre a minha vida”; o escritor que no México, enquanto escrevia a sua obra-prima (nunca por ele considerado o melhor livro), Cem Anos de Solidão – entre 1965 e 66 – , só teve dois discos que se gastaram de tanto serem ouvidos sem piedade: Os prelúdios de Debussy e A Hard Day’s Night, dos Beatles; o nobelizado (em 1982) que escreveu um dos incipid mais celebrados de sempre (“Muchos anos depués frente al pelotón de fuzilamento el coronel Aureliano Buendia habia de recordar aquella tarderemota en que su padre lo llevó a conocer el hielo.”) e que haveria de carregar sempre o rótulo de “realismo mágico” grudado ao seu nome e ao Caribe, como a humidade pagadiça de Macondo, onde o mundo era tão recente “que as coisas não tinham nome e era preciso apontar-lhes o dedo para nomeá-las”; O viajante que correu o mundo e sonhava ganhar a vida como guionista de cinema; o comunista exilado pela ditadura feroz da Colômbia, mas que conheceu de perto as debilidades do sovietismo, e sempre se mostrou apoiante de Cuba e de Fidel; a pessoa que um dia afirmou: “um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”. Ana Margarida de Carvalho
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