Com o Planeamento Estratégico do Instituto dos Museus e da Conservação, o Ministério da Cultura apresentou as linhas mestras para a área dos museus nacionais. O objectivo é, por um lado, diminuir o número de instituições sob a alçada da Administração Central e, por outro, imprimir uma nova dinâmica ao sector, sobretudo ao nível da gestão. O JL quis saber o que vai mudar e, já que este planeamento tem como horizonte a legislatura, que museus iremos ter daqui a quatro anos. Entrevistou o secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, especialista da matéria e responsável pelo sector, e o director do Instituto dos Museus e da Conservação, João Brigola, e ouviu vários especialistas, incluindo directores e ex-directores de museus, nomeadamente num inquérito. A revolução está em marcha. Será tranquila?
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Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado
E ao fim de vários anos, o muito aguardado alargamento do Museu Nacional de Arte Contemporânea vai finalmente avançar. A mudança da PSP e do Governo Civil para outras instalações vai concretizar-se, cabendo ao Museu do Chiado a totalidade da área do antigo Convento de São Francisco, em articulação com a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Isso permitirá expor em permanência a colecção de arte portuguesa, que será o epicentro da sua programação. Essa é, de resto, a linha orientadora que a nova directora, Helena Barranha, que substituiu Pedro Lapa, quer imprimir à instituição. “Por um lado, articular as exposições temporárias com os vários núcleos do acervo, que vai dos finais do século XIX à actualidade. Por outro, abrir o museu à cidade, aproveitando a revitalização da Baixa-Chiado”, adianta, ao JL. A ideia, a ser consubstanciada num projecto arquitectónico, através de concurso público, é criar uma lógica de quarteirão, com um pólo cultural também aberto à iniciativa privada. Além dos habituais espaços expositivos, estão pensadas zonas para esplanadas, restaurantes, livrarias, galerias de arte , numa lógica de vida urbana que “levará o exterior para o interior, e o interior para o exterior”. Confirmadas para 2010 estão as exposições dedicadas a Nadir Afonso e a Columbano Bordalo Pinheiro.
Museu Nacional de Arte Popular
Reabrir o Museu Nacional de Arte Popular, com a sua colecção original e uma releitura contemporânea, foi uma das primeiras decisões da nova equipa do Ministério da Cultura. Abandonou-se assim o desejo de José António Pinto Ribeiro de aí criar o Museu da Língua e da Viagem, que terá projecto autónomo. Abertura será ainda este ano, provavelmente de forma faseada, e contemplará também um olhar sobre a gastronomia portuguesa. Para a dinamização do Museu de Arte Popular, Andreia Galvão, que foi nomeada directora substituta até à conclusão do concurso público, definiu três linhas de reflexão: “Valorizar a ideia de museu-documento, fazer a ponte entre o passado e o futuro e torná-lo uma embaixada do país em Lisboa, aberto às comunidades”.
Museu da Língua e da Viagem
A excepção que fará a regra. Em tempo de consolidação, o Museu da Língua e da Viagem será caso único. E a sua criação, segundo o Secretário de Estado da Cultura apenas se justifica pela sua necessidade e pelo interesse público do programa museológico. “Coloquemo-nos na perspectiva do viajante. Chega a Lisboa e quer saber mais sobre a História de Portugal. Onde vai?”, questiona-se Elísio Summavielle. “A Língua é a nossa História, em Portugal e pelo mundo”. O projecto de um museu dos descobrimentos, equacionado no passado, foi abandonado por requerer o esvaziamento de alguns museus. Sem adiantar datas, o secretário de Estado garante que já estão definidos vários pontos, a anunciar ao longo de 2010. “É algo que faz falta e que poderá não ser um museu no sentido tradicional do termo. Terá como partida uma colecção, mas o mais importante será a mensagem e a reflexão sobre um povo”.
Museu Nacional de Arqueologia
Do Mosteiro dos Jerónimos para a Cordoaria. O Museu Nacional de Arqueologia terá casa nova, daqui a três ou quatro anos, permitindo ao mesmo tempo o alargamento do Museu da Marinha. A proposta, apresentada pelo Ministério da Cultura, depois de um acordo com o Ministério da Defesa, foi recebida com alguma apreensão pela Associação de Arqueólogos Portugueses e pelo próprio director da instituição. Actualmente, porém, essas reservas já parecem ter sido superadas. Segundo o secretário de Estado, Elísio Summavielle, a Cordoaria tem todas as condições para receber o Museu de Arqueologia, depois de efectuadas obras de adaptação. Será lançado um concurso público para a remodelação do interior, já que a estrutura do edifício não sofrerá nenhuma intervenção. Esta mudança implicará, também, a constituição de uma rede nacional de reservas arqueológicas em parceria com o IGESPAR e o tratamento dos seus arquivos.
Museu dos Coches
É a grande novidade dos museus e o centro de toda a contestação. O Museu dos Coches vai ter um novo edifício, com projecto do arquitecto brasileiro Paulo Mendes, mantendo-se no entanto um pólo no antigo picadeiro e outro em Vila Viçosa. A primeira pedra foi lançada no passado dia 1 de Fevereiro, na presença de vários membros do Governo. A contestação ao projecto passa sobretudo pelo avultado investimento, numa altura de escassez de recursos. A tutela, no entanto, defende-se dizendo que se trata de uma iniciativa do Ministério da Economia, com fundos provenientes das contrapartidas da criação do Casino de Lisboa. De qualquer forma, será o centro do eixo Ajuda / Belém que o Ministério da Cultura quer dinamizar. “Belém é uma marca internacional da qual temos de tirar o maior proveito possível”, afirma João Brigola, director do IMC. O objectivo é capitalizar os visitantes do Mosteiro dos Jerónimos (um milhão em 2009) e fazê-los circular pelas ofertas circundantes. Para isso, e em parceria com o Turismo de Portugal e a Câmara Municipal de Lisboa, está em estudo a criação de um bilhete conjunto, de uma loja centralizada e de uma nova dinâmica de circulação (que envolve a CP e a linha de comboio). Recusando a obsessão pela estatística, João Brigola acredita que, através da qualificação dos espaços, é possível atrair mais públicos.
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