O Monstra regressa em grande, após as edições em formato reduzido condicionadas pela pandemia. São 400 filmes, incluindo uma retrospetiva do cinema búlgaro, e várias estreias mundiais, que podem ser vistos no São Jorge, City Alvalade, Cinemateca e outros espaços da cidade de Lisboa, entre 16 e 27. O JL falou com o diretor do festival
JL: Esta é a primeira edição pós-pandemia. Dá ideia que o Monstra regressa ainda com mais força. É verdade?
Fernando Galrito: É um ano grande em termos de quantidade, mas também na qualidade. Temos coisas muito interessantes do lado artístico, estético e dramatúrgico, mas também enquanto reflexo das inquietações contemporâneas e as novas relações. A minha família afegã, a longa de Michaela Pavlátová, que abre a competição, fala do encontro de uma afegã com um checo. A ante-estreia do festival, o Belle, levanta a problemática de cada vez termos personalidades diferentes na vida real e na vida digital. O festival é um espaço de reflexão sobre o mundo em que vivemos.
A Bulgária é o país tema. O que nos traz esta grande retrospetiva?
Além das cores da bandeira, a Bulgária tem muitos pontos em comum com Portugal. Por exemplo, os caretos, com os chocalhos, são muito semelhantes aos portugueses. Tudo isto se reflete na animação. Vamos passar 80 filmes, em 11 sessões, que fazem a história da animação da Bulgária, desde o período soviético aos mais recentes. O grande destaque é a estreia mundial de To Put It Mildly, de Anri Koulev, um realizador e artista multifacetado. Aliás, tal pode também ser apreciado na exposição que fazemos dele em conjunto com a Joanna Quinn na SNBA.
E no cinema português? O que se pode destacar?
O filme de estreia de Francisco Lança conta a história do Cigarra e da Formiga, mas valorizando a importância do trabalho do artista. Há um documentário animado da Laura Gonçalves, O Homem do Lixo, sobre o seu tio que encontrava muitas preciosidades no lixo e recuperava. Há um equilíbrio entre novos realizadores e outros mais conceituados, como o Pedro Serrazina. O que faz da animação portuguesa tão apreciada no mundo inteiro é o facto de contar aquilo que é nosso e partir do local para o universal. No Museu da Marioneta mostramos ainda as marionetas e imagens da primeira longa metragem stop-motion portuguesa, Os Demónios do meu Avô, realizada pelo Nuno Beato.
Há ainda espaço para um olhar sobre pioneiros da animação…
O Émile Cohl criou, em 1892, as primeiras pantominas animadas, três anos antes dos Lumiére. Vamos mostrá-las, juntamente com o trabalho do Émile Reynaud, na Cinemateca, com acompanhamento ao vivo pelo grande pianista francês Jacques Cambra. Também teremos 85 anos da Branca de Neve e os 50 anos do Félix the Cat.
Parece que cada vez têm mais secções… Porquê?
Quisemos mostrar às pessoas que os géneros cinematográficos também existem no cinema de animação. Por isso temos animação de documentário, que é um formato cada vez mais procurado por documentaristas de imagem real, mas também terror, videoclips e o cinema sensual.