O antigo secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, reconhece a existência de “externalidades negativas” geradas pela atividade turística, mas defende que a disseminação da atividade a nível mundial é imparável e que é necessário, por isso, que o impacto do fenómeno seja estudado nas instâncias internacionais.
“Todas as atividades económicas geram externalidades negativas, o que se trata é de perceber como se gerem e não tentar criar externalidades piores,” argumentou este sábado, 21 de abril, durante um dos painéis de debate do VISÃO Fest, o festival que comemora os 25 anos da revista, agora do grupo Trust in News.
O também vice-presidente do CDS-PP defende que as razões demográficas e culturais e a democratização dão dimensão global aos impactos do fenómeno turístico, o que faz com que tenham de ser alvo de reflexão: “Não vai dar sinais de abrandar. É um tema para o G8 começar a pensar.”
Outra das questões referidas durante o painel “Duelo criativo – o que temos para oferecer ao mundo”, em que também participou o empresário Álvaro Covões, foi o do impacto da procura internacional na disponibilidade de habitações e nos preços dos imóveis nas grandes cidades, recentemente evidenciado pelo elevado preço alcançado num leilão de habitação acessível da Câmara Municipal de Lisboa. Um problema que o antigo secretário de Estado considera que não é de hoje: “Temos pouca oferta para a procura, o poder de compra internacional é maior,” dispõe, argumentando que as soluções “micro” não vão resolver o problema. “Se há um direito de ir viver para o centro, de quem é esse direito? Como é que se faz esse sorteio?” questiona.
Já o diretor geral da Everything is New, para quem é preciso potenciar o turismo, sublinhou a importância da atividade para a recuperação do País da crise económica internacional e do período de intervenção externa. “[O turismo] foi a única indústria em Portugal que sem investimento estava preparada para duplicar ou triplicar as vendas, porque tínhamos tudo. Se não fosse o turismo, se calhar ainda teríamos a troika em Portugal.”
No painel, moderado pela jornalista da VISÃO Vânia Maia, defendeu-se ainda a necessidade de o país valorizar o que é único e associar estórias à oferta turística para acrescentar diferença à experiência dos visitantes. “Durante muitos anos promoveu-se Pportugal como um bilhete postal, a nossa opção foi promover o que se faz, vive e experimenta cá,” lembrou Mesquita Nunes sobre a sua passagem pelo Governo. “Foi um erro ter-se vendido durante muitos anos Portugal como um destino de sol e praia. Não somos um destino de praia. Um destino de praia é quando à noite estão 30 graus e a água está quente,” acrescentou Covões.
Para o também organizador do NOS Alive, os fãs que os festivais de música arrastam consigo convertem-se muitas vezes em turistas a quem Portugal tem ainda a obrigação de apresentar motivos diferenciadores aos turistas. Mesmo que em alguns casos os temas possam não ser consensuais. “[A tauromaquia] é um elemento diferenciador,” considerou. Em Portugal vai ser sempre difícil discutir esse tema, mas temos obrigação de apresentar temas diferenciadores,” adicionou, não sem antes deixar: “Não posso ser contra a tourada enquanto comer frango ou comer um prego.”
Ambos concordaram com a necessidade de o País melhorar os conteúdos a oferecer aos visitantes, nomeadamente através do storytelling – que tem de corresponder ao que vai ser encontrado no destino -, mas também da promoção de recursos locais que os turistas possam levar consigo, como os vinhos. Já o conceito do que é autêntico e se aponta como estando em risco nas grandes cidades turísticas motivou reparos de Mesquita Nunes:
“A autenticidade de que as pessoas falam é pobreza: chegar a Alfama e ver roupa estendida à janela e tanques ou peixe de três dias a assar é porque as pessoas eram pobres. Houve uma parte da evolução da cidade,” considerando “salazarenta” essa ideia de autenticidade.
A VISÃO COMEMORA OS SEUS 25 ANOS DE EXISTÊNCIA NO CAPITÓLIO, ESTE FIM DE SEMANA. DEBATES, DUELOS CRIATIVOS, CONCERTOS, WORKSHOPS E ATIVIDADES QUE VÃO ANIMAR O CAPITÓLIO E TRAZER ATÉ SI A VISÃO AO VIVO NOS DIAS 21 E 22 DE ABRIL. A ENTRADA É LIVRE
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