Este texto esteve para não acontecer e é só por isso que vamos falar dos bastidores. Porque não foi fácil reunir o grupo Os Quatro e Meia no centro cultural de Carregal do Sal para tocarem para nós, em exclusivo. Insistimos nisso desde o fim de semana passado, quando soubemos que os músicos iam ser as estrelas de um concerto solidário, no próximo sábado dia 11, cujas receitas reverterão para as vítimas dos incêndios no concelho.
Esta banda que acaba de gravar o seu primeiro álbum de originais (Pontos nos is) é composta por seis elementos, que tocam guitarra, acordeão, violino, bandolim, contrabaixo e percussão. Mas nós só conseguimos estar com um terço deles (até o elemento que é da terra estava fora), um instrumento e a música Para a Frente é que é Lisboa, entoada em modo “superacústico” na plateia do centro cultural. Para lá entrarmos, já com a noite caída e fresca, foi preciso localizarmos o funcionário da câmara que tem a chave para vir abrir e fechar portas e luzes, montado na sua bicicleta. Valeu-nos a ajuda de Sandra Seabra, 29 anos, a dentista mentora deste espetáculo, ou o concerto de uma música só teria acontecido na rua.
Sandra, como quase toda a gente por estas bandas, andou a apagar o fogo como pode na noite de dia 15, em Cabanas de Viriato, onde vive e trabalha. Nas horas que se seguiram ouviu diversas histórias de perdas e danos e estava angustiada sem descobrir uma forma concreta de ajudar os seus familiares e vizinhos que tinham perdido principalmente o seu meio de sustento.
De repente, fez-se luz. Sandra telefonou ao amigo Rui Marques (um dos seis elementos dos Quatro e Meia) e perguntou-lhe se era homem para juntar os outros músicos com quem toca há quatro anos para o tal concerto (são de fora do Carregal, mas estudaram todos em Coimbra). Daí à concretização foi um ápice de 15 dias – pediu apoio à câmara, que lhe cedeu o espaço, imprimiu os cartazes que um amigo desenhou e vendeu alguns bilhetes. Entretanto, já não há mais entradas. Contas feitas a 10 euros cada, Sandra conseguiu arrecadar 3500 euros para a população do seu concelho e irá entregar a gestão desta quantia ao município.
Um valor que justifica o esforço de deslocação deste grupo de amigos que têm outras profissões (informático, professor de música, médicos e engenheiros) e que atuam de graça. “Nem fazia sentido ser de outra forma”, realça Mário Ferreira, 32 anos, que trabalha em Coimbra quando não toca acordeão e que pisou pela primeira vez Carregal do Sal para tocar para a Visão. Ouçamo-los, pois então.
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