Esquecidos
Não se sabe ao certo quantos coretos existem em Portugal. A história dos coretos é longa, mas está cheia de silêncios. Eles surgem numa espécie de espaço à margem na história do urbanismo ou da arquitetura recentes. São raros os trabalhos publicados que consigam enquadrar de modo exaustivo a história dos coretos e o modo como a sua função se foi – ou não – alterando com o tempo, sobretudo os efeitos que teve neste tipo de equipamento urbano as novas formas de “consumir” música, desse o momento em que apareceu o disco, à rádio. A obra «Coretos em Lisboa: 1770-1990», de Eunice Relvas e Rui Bebiano, uma das poucas sobre este tipo de equipamento urbano, refere a existência de 22 coretos fixos em Lisboa. Entre os mais antigos da cidade estão os coretos do Jardim Zoológico e o do Passeio Público, atualmente no Jardim da Estrela. São dos anos 30 e 40 do século XIX.
Bruno Racalbauto, historiador de arte suíço, autor de uma obra considerada de referência nesta área, Les Kiosques a Musique de la Ville de Geneve: Étude Historique et Architecturale, salienta justamente o modo como se alterou o modo de usar o espaço público para explicar o abandono a que os coretos foram votados. Isso e as novas exigências – acústicas e de conforto — do público para consumir música, a noção de espectáculo alterou-se. E, tal como nos primórdios dos coretos, começaram a surgir modelos desmontáveis, adaptados aos espaços e às necessidades dos “concertos” a substituir a que era a função dos coretos tradicionais, associados ao apogeu das bandas de música – filarmónicas e antes disso, sobretudo em Inglaterra, influenciadas pelas bandas de New Orleans.
Revisitar os coretos
É neste ponto da história que, um pouco por todo o mundo, surgem novas ideias para devolver esses espaços à cidade contemporânea, com uma função mais ampla do que aquela para que foram inicialmente pensados, e outra vez, num momento em que modo de usar o espaço público se altera, com os centros urbanos a recuperarem vida. Inglaterra tem sido um exemplo. Muitos dos seus coretos foram destruídos nas duas guerras, o ferro de que eram feitos transformado em armamento, e parte dos que restaram foi vandalizada até que no final do anos 90 do século passado se iniciou-se um movimento de construção e restauro que teve no Stanband Marathon, em 2008, um momento alto, com uma maratona de concertos que percorreu muitos locais do país. Os coretos voltavam ao circuito da música. Em 2013, um editorial do jornal britânico The Guardian elogiava o movimento numa data em que se iniciava a recolha de fundos para as obras de um, muito especial: ficava em Beckenham e nele tocou um muito jovem David Bowie no mesmo fim-de-semana em que nos Estados Unidos acontecia o Festival de Woodstock.