![Barra Mil](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/11/6343341Barra-Mil.jpeg)
Quando se tem 54 anos, a memória já é longa e muito verdadeira. A de José Luís Barbosa, designer (de moda e de objetos) e empresário (é proprietário das lojas Espaço B, Bazar e Arquitectónica, todas situadas na zona do Príncipe Real) guia-nos os passos por estas ruas e pelo jardim que lhes faz frente, pequeno e grande, ao mesmo tempo, com um enorme cipreste-português, que serviu e serve de sombra a muita gente: ao filósofo Agostinho da Silva, um dos moradores do bairro, a João César Monteiro (os dois, entretanto, desaparecidos), a António da Cunha Telles e a João Botelho, homens das artes cinéfilas.
Nos finais dos anos 80, a movida madrileña estava no auge e José Luís Barbosa imaginou-se a vivê-la em Lisboa: no Príncipe Real, nas artérias que ainda hoje considera serem das mais bonitas da cidade, desafiando amigos a segui-lo. Sem sucesso. O mercado de arrendamento não existia, o preço a pagar por um trespasse era “escandaloso”… Mas ele para lá partiu: abrindo a primeira – e pequena – Arquitectónica, em 1990, depois mudando-se para um palacete do século XVIII, onde também viveu sete anos. A história acabou, quando “o americano” (figura bem conhecida na zona) se apaixonou pelo espaço e por aquele local lisboeta e o comprou. Adquiriu o palacete e tem adquirido quase todos os imóveis que ali “vagam”. “É a nossa sorte” – assegura-nos José Luís Barbosa – “assim, temos a certeza de que os prédios não vão a baixo.”
Rota de turistas – “se não fossem eles, as lojas já tinham fechado” -, com vida de “bairro alternativo”, com uma rua (ou melhor, duas) plana, com um risco ao meio, aproveitado para a realização de mercados, biológico e de velharias, que alimentam a alma deste criador, que, sem pudor e “porque é verdade”, nos diz: “Esta zona da cidade acaba por me ter a mim na origem…”. Tem o direito, por isso, de exigir mais de quem devia cuidar dela: “A Câmara de Lisboa ainda não percebeu a importância do Príncipe Real, um bairro de excelência, com qualidades incríveis. Não lhe dá apoio, não olha por ele. São as condições naturais, sobretudo o vento, que se encarregam de o limpar…”