Mil e um objetos que vêm “agarrados” a casamentos, divórcios, nascimento dos filhos ou mortes de familiares ou tão simplesmente a necessidade de criar um espaço adicional de escritório em casa (tão em voga em tempos de trabalho híbrido) estão a levar um número crescente de pessoas a alugar espaço num self-storage (à letra, auto-armazenamento), uma tendência já bem consolidada lá fora mas que só agora começa a instalar-se com escala em Portugal.
Ainda muito concentrados nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, estes espaços proporcionam, a baixos custos, a possibilidade de arrendar ao mês uma área que pode ir de uma espécie de cacifo de dimensão generosa até a uma box do tamanho de uma garagem ou de uma sala com 30 metros quadrados.
Na essência, o self-storage replica o negócio tradicional de aluguer de garagens ou contentores mas assegura o negócio de uma forma estrutura, profissional e com uma oferta muito diversificada.
Já há várias empresas no mercado entre as quais a Bluespace, empresa de origem espanhola que entrou em Portugal em 2019. Atualmente conta com armazéns na Portela de Sacavém, Telheiras, Massamá, Alfragide e em Carnaxide, numa área global que excede os 20 mil metros quadrados.
“Aparecem-nos pessoas com todo o tipo de situações desde quem necessite de espaço para guardar caixas e as bicicletas ou quem está a fazer obras em casa e precisa esvaziar o espaço temporariamente”, explica José Serrado, Regional Manager Lisboa & Vizcay. A empresa oferece várias opções de armazenamento tendo a box mais pequena uma dimensão de um metro e meio por um metro o que permite acomodar bicicletas e uma dezena de caixas, exemplifica o responsável, acrescentando que a opção mais procurada é, contudo, a de 1×5 metros.
A Bluespace também trabalha com empresas, segmento que representa cerca de 25% da sua carteira de clientes. “As farmacêuticas são um bom exemplo. Muitas preferem armazenar o seu produto nos nossos espaços poupando em deslocações dos seus colaboradores que acabam por vir aqui abastecer-se”, explica José Serrado, realçando que para necessidades com outra escala existem espaços até 35 m2 e que até se podem expandir numa área máxima de 200 m2.
Também na Kuboo, empresa com sede em Portugal, o tempo é de expansão. Fundada em 2017 em Lisboa por dois amigos da indústria cinematográfica, a empresa cresceu assente no conceito de que é possível dar uma abordagem de hospitalidade quase hoteleira a este negócio, um modelo que aplica nos seus espaços em Carnaxide, Abóboda e Seixal.
“Gostamos de dizer que a Kuboo pode ser uma extensão da casa das pessoas por isso quem aqui chega à nossa receção encontra um ambiente confortável, uma luz ambiente, um café quente ”, sublinha Diogo Pereira, diretor de marketing desta empresa que venceu o Prémio de Melhor Self-Storage Europeu de 2022, superando mais de 4000 outras lojas.
E quem procura a Kuboo a título particular? “Pessoas que têm objetos que não precisam para o dia-a-dia e que não querem ver amontoados pela casa, espólio de familiares já falecidos que por uma questão de valor estimativo deve ser preservado, empresas que com a pandemia reduziram espaço e têm agora necessidade de guardar o mobiliário de escritório ou fazer arquivos de documentação, entre outras situações”, especifica o responsável.
O objetivo é que “as pessoas passem a usar a garagem para efetivamente estacionarem o carro e não para guardar caixas”, graceja Diogo Pereira. Ou “em vez de comprar uma casa maior, aluguem um armazém para o que já não precisam. Em termos de preço seguramente compensa e reorganizam a casa”, realça ainda o diretor de marketing da Kuboo.
Neste momento a Kuboo conta com 4 armazéns: Carnaxide, Abóboda e Seixal e em breve abrirá o 4º armazém também na zona da Grande Lisboa.
O modelo de negócio é muito idêntico nas duas empresas com a possibilidade de acesso ao local a qualquer hora do dia ou da noite através de um código pessoal digital e preços a partir dos 45 euros.
Apesar de estar ainda a começar em Portugal, o self-storage já é um mercado consolidado em vários países ocidentais, com grande destaque para os Estados Unidos. O mais recente relatório do NAREIT (National Association of Real Estate Investments Trusts) dá conta que na última década os espaços de self-storage tiveram um boom tão significativo que alcançaram mesmo um retorno de 58,89%, o mais alto entre todos os setores integrados nos chamados fundos de investimento imobiliário, ou na gíria comercial os REITs (Real Estate Investment Funds). Esta valorização foi espoletada pela pandemia que ao impulsionar o trabalho remoto levou várias famílias a mudarem de casa nos últimos dois anos.
Resta agora saber como é que este mercado se irá comportar em 2023 a nível global, um ano que se prevê marcado pela inflação e, logo, por menos consumos de bens físicos com necessidade de armazenamento e menos mudanças de casa.