Já se sabe que Portugal é um país de proprietários de imóveis – ou melhor dizendo, de devedores ao banco para aquisição de casa – e no ano que agora findou o cenário não mudou. Sem grandes alternativas no mercado de arrendamento, e apesar da pandemia e da subida das taxas Euribor, os portugueses (que representam cerca de 90% do mercado) avançaram em força para a compra de casa movimentando €31.000 milhões relativos a 168.000 imóveis residenciais, uma estimativa da consultora imobiliária JLL.
“A confirmar-se, este valor apresenta um aumento de 10% face aos €28.100 milhões transacionados em habitação em 2021, os quais já tinham estabelecido um volume nunca antes visto em vendas residenciais”, sublinha-se num comunicado divulgado pela multinacional do imobiliário.
“Iniciámos 2022 a pensar que seria um ano marcado pela recuperação pós-covid, mas o panorama mudou com um clima de guerra na Europa, inflação em níveis que não são vistos há 30 anos e taxas de juro a aumentar depois de anos negativas. Estas novas realidades têm, obviamente, impactos, incluindo a redução do poder de compra das famílias e das empresas e aumento dos custos de financiamento. Mas o facto é que o imobiliário português volta a ter um desempenho surpreendente numa conjuntura adversa”, sublinhou Pedro Lencastre, diretor-geral da JLL.
No imobiliário comercial (hotelaria, escritórios, retalho, etc), a JLL confirma a concretização de operações no valor de €3.300 milhões de euros em 2022, refletindo um aumento anual de 66% face aos €1.950 milhões investidos em 2021 e uma aproximação a outros anos, nomeadamente 2018 e 2019, quando foi ultrapassada também a marca dos €3.300 milhões. Acrescem ainda cerca de €350 milhões de euros em transações de ativos para promoção imobiliária, os quais incluem terrenos e prédios para construção nova ou reabilitação.
“Este desempenho foi possível porque, por um lado, Portugal está no centro do radar para os investidores (privados e institucionais), e por outro, porque o mercado imobiliário português sofre de escassez estrutural de oferta”, sublinhou o responsável, admitindo, contudo, “que a adversidade macroeconómica e a incerteza geopolítica começam já a afetar a dinâmica do mercado imobiliário, notando-se nos últimos meses do ano, que tradicionalmente são mais fortes, sinais de algum abrandamento”.