O setor imobiliário tem pela frente mais um desafio que terá de ultrapassar, mas felizmente tem mostrado, ao longo dos últimos anos, a capacidade de se ajustar a novas realidades, com maior ou menor dificuldade. Comparativamente com outras áreas de atividade, o setor da construção foi um dos poucos em que a pandemia não teve efeitos diretos significativos, pelo menos numa primeira fase em que não se registaram paralisações generalizadas.
O principal efeito sentido foi a diminuição da produtividade, o que levou a um prolongamento do prazo das obras, principalmente em projetos que já estavam em curso, pondo em causa compromissos que já tinham sido assumidos.
Estes efeitos começaram a sentir-se mais tarde de forma indireta, sobretudo na cadeia de
abastecimento. As dificuldades foram evidentes e de forma vincada ao longo de 2021 na produção e processamento de diversos materiais e no seu transporte até ao destino final, o que teve, e ainda tem, um impacto muito acentuado no setor, refletindo-se de forma imediata na subida global dos custos da construção.
Estes fatores de ordem global, associados à falta de mão de obra disponível e a uma procura e dinamismo crescentes deste setor em Portugal, justificam, por si só, essa subida. Foram registados aumentos significativas dos preços de algumas matérias primas fundamentais para o setor, como o aço, cobre, alumínio e madeira, que se repercutiram muito negativamente nos custos em diversas atividades.
Esta subida generalizada dos preços atinge diretamente toda a cadeia do setor, desde promotores a empreiteiros e, consequentemente, os clientes finais. De acordo com publicações recentes do INE, os custos da construção em projetos de habitação, motor do setor imobiliário nos últimos anos em Portugal, terão aumentado na ordem dos 7%, em comparação com valores homólogos de 2020.
Esta subida tem sido mais ou menos transversal a todos os segmentos de mercado.
É expectável que esta nova realidade obrigue ao reajustamento dos valores da construção e, por efeito, no preço do produto para o consumidor final nos mais variados setores, seja na habitação, escritórios ou logística. É difícil prever quando se atingirá uma estabilização dos valores, ainda para mais agora com o impacto dos recentes acontecimentos mundiais. Esperamos, contudo, que a normalização das cadeias produtivas aconteça o mais breve possível, de forma a estabilizar os preços das principais matérias-primas que têm influência determinante nos preços da construção.
Da experiência da Engexpor até ao momento, a subida dos custos da construção não tem tido um impacto significativo na nossa atividade. É natural que exista mais apreensão por parte dos investidores, no entanto e felizmente, não temos sentido uma redução no número de novos projetos. Há sim uma maior necessidade e preocupação por parte dos nossos clientes no controlo dos custos, nas projeções dos valores de novos projetos e na procura de soluções que de alguma forma possam mitigar esse risco.
Neste sentido, entendemos que todos os intervenientes deste setor terão de se ajustar e contribuir para que esta situação não trave o crescimento do setor. Da nossa parte estamos a sugerir e implementar, com base no nosso vasto track record em projetos dos mais variados setores, as melhores práticas e soluções que, de alguma forma, vençam as dificuldades que estamos a atravessar. Parece-nos importante que o setor aplique cada vez mais soluções normalizadas, de modo a contornar o problema da falta de mão de obra e, consequentemente, dos prazos, utilizando materiais e soluções que diminuam o impacto da subida dos preços.
Em muitos casos será um objetivo ainda difícil de alcançar, mas entendo que irá marcar a diferença do nosso setor nos próximos anos, nomeadamente o uso de tecnologia e a industrialização das soluções. Será certamente o futuro.
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