A venda de casas não diminuiu, antes pelo contrário. O que explica esta evolução?
Há um fator que fica sistematicamente fora da análise, embora seja a principal alavanca do mercado. E que fator é este? Se olharmos para as transações imobiliárias este ano, em Portugal (e iremos ultrapassar as 180 mil vendas no mercado residencial), chegamos à conclusão de que talvez mais de 90% estão relacionadas umas com as outras. E porquê? Porque as pessoas, ao venderem uma casa, realizam dinheiro e reinvestem em imobiliário. Essa cadência não é alterada com uma pandemia. As pessoas não deixam de morrer, de se separar, de ter filhos, de querer uma casa diferente e de vender a que já têm… E esta cadência imobiliária, que tem motivos de ordem essencialmente sociológica, não é quebrada. É uma cadência constante, é uma cadência geracional. E não cessa sequer com a alteração das taxas de juro.
Os preços das casas subiram quase 10% no terceiro trimestre. Diria que é uma tendência de crescimento que se manterá em 2022?
Não há um incremento significativo da oferta de casas, e isso dá alguma consistência e tendência de subida dos preços, sobretudo onde há maior pressão, e isso acontece principalmente nos centros urbanos de Lisboa e Porto. Mas não há pressão de preços em Peniche ou em Castelo Branco. Todos sabemos que o mercado é caracterizado por uma grande heterogeneidade, mas quando surgem aqueles títulos nos jornais a dizer que os compradores estrangeiros estão a provocar uma sobrevalorização dos imóveis, é preciso perguntar se isso está a acontecer em Portugal ou só no Chiado. Porque, na Beira Interior, não há muito investimento estrangeiro, na Lourinhã também não… Portanto, estes fenómenos são nichos de mercado circunscritos a Lisboa, Porto, Cascais ou Comporta. Nada têm que ver com Almada, Amadora ou Leiria.