Gostos não se discutem e este é também um lema que se aplica à escolha de uma casa. Mas tamanhos e localizações à parte, seja no campo ou na cidade ou com uma vista assombrosa sobre o mar, a verdade é que há três fundamentos básicos para se conseguir ter uma boa qualidade de vida habitacional: assegurar o isolamento térmico, o isolamento acústico e a iluminação adequada.
A pandemia tornou evidentes as fragilidades na construção onde estes três princípios não foram respeitados e muitas são as pessoas que procuram agora corrigir esses defeitos na sua habitação, como nos conta Nuno Garcia, diretor-geral da Gesconsult, empresa de consultoria, gestão e fiscalização de obras que desdobra a sua atividade entre projetos de maior dimensão, dos promotores e os mais pequenos, dos particulares.
“As pessoas passaram a sentir a casa de uma maneira diferente pois começaram a usá-la permanentemente em vez de 10 ou 11 horas por dia. E estamos a notar muito isso no nosso segmento particular que por vezes nem quer remodelar a casa toda, bastam espaços específicos”, diz Nuno Garcia.
E dá exemplos: desde os clientes que já não conseguiam suportar o barulho dos vizinhos do lado e a quem foi proposto o isolamento da parede até aqueles que querem renovar a cozinha (que passou subitamente a ter mais uso) ou criar um espaço específico para o teletrabalho.
“Esta nova perceção das habitações já está a ter impacto no mercado, com o número de pedidos de remodelação de apartamentos a subir, evidenciando uma preocupação das famílias em ter espaços mais confortáveis. Mas, por tratar-se de uma decisão com grande impacto no orçamento familiar, deve ser bem programada, pensando no que a família precisa a médio e longo prazo”, reforça ainda o responsável.
As intervenções mais pequenas variam consoante a especificidade do pedido mas transformar uma casa antiga e sem condições numa habitação moderna, com conforto térmico e acústico tem um custo que varia entre os 600 e os 800 euros por metro quadrado, exemplifica o diretor-geral da Gesconsult. “Num T2 ou T3 com cerca de 100 m2, por exemplo, estamos a falar de um valor de referência na ordem dos 80 a 100 mil euros”, especifica o responsável da Gesconsult, empresa que assegura também projetos na área da hotelaria, retalho e escritórios.
“Esta fase é igualmente ideal para refletir se a habitação ainda serve os propósitos da família. Se a casa tem um quarto que não está a ser utilizado, pode ser transformado, por exemplo, numa nova sala de estar, ou até num escritório”, reforça ainda.
Assim, para quem está a pensar remodelar a sua habitação, o especialista aponta cinco aspetos a ter em conta, entre os quais as três regras de ouro para o conforto da casa:
Isolamento acústico: “Se ouve a vizinha a cozinhar e acorda durante a noite com o bebé do andar de cima a chorar, está na hora de repensar o isolamento acústico da casa. Apesar de ser um aspeto tido em conta na construção nova, em prédios mais antigos o barulho pode ser um problema, trazendo grandes transtornos no dia a dia. Para garantir o descanso de todos, pode ser necessário aplicar novas soluções de isolamento em paredes, pavimentos ou tetos”.
Isolamento térmico/eficiência energética: “Não só pelo conforto, mas também pela conta mensal de energia, melhorar o isolamento térmico deve estar entre as prioridades. Investir em boas janelas, painéis solares ou sistemas de climatização de alto rendimento pode parecer um grande rombo no orçamento, mas, ao final de alguns meses, é compensatório, já que poupará e estará a contribuir para um mundo mais sustentável”.
Iluminação: “Se se sente mais irritado, com a vista cansada ou dores de cabeça, o problema pode estar na iluminação da sua casa. A intensidade e a cor da luz interferem diretamente no bem-estar e produtividade, pelo que devem ser adequadas a cada espaço. Deve verificar-se a disposição da iluminação, mas também a qualidade, optando por lâmpadas de baixo consumo (LED), que tragam maior conforto e tenham um impacto positivo na conta da luz”.
Cozinha: “A cozinha é um dos espaços onde mais tempo passamos e agora, com as limitações dos restaurantes, é normal que faça cada vez menos refeições na rua e cozinhe cada vez mais em família. Por isso, esta é uma divisão onde deve apostar, otimizando o espaço, mas também os equipamentos, que devem ter uma boa classificação energética para garantir menores consumos”.
Tecnologia: “Aproveite para tornar a sua casa mais inteligente. Integrar um sistema de gestão técnica centralizada sem necessidade de contacto, que permita controlar iluminação, estores, climatização ou as portas através do telemóvel, vai deixar a habitação preparada para eventuais situações como a recente pandemia, diminuindo as possibilidades de contágio, mas também facilitar o dia a dia: enquanto está no trabalho pode preparar a casa para a chegada. Este sistema pode também trazer vantagens nos consumos”.