Os efeitos do Covid-19 poderão provocar uma retração na construção nova e um regresso à reabilitação. Com a economia congelada e a incerteza a marcar a vida de milhares de famílias, os promotores que há bem pouco tempo começavam a olhar para o mercado nacional e para a possibilidade de lançar projetos imobiliários para este segmento, colocam agora em suspenso esses planos para perceber qual o rumo que irá tomar o período pós-coronavírus.
Mas por enquanto, e segundo um inquérito lançado pela consultora Worx a mais de 200 investidores, entre fundos imobiliários, family offices e privados, uma significativa fatia de 90% respondeu que ainda “prevê realizar operações este ano, o que vem reafirmar a vontade de continuar a investir”, refere-se no estudo.
“Praticamente todas as transações que estavam em curso no imobiliário comercial (escritórios, retalho, hotelaria, logística e promoção) pararam mas o sentimento partilhado junto dos investidores (com quem continuamos a falar em videoconferência todos os dias) é que a vontade mantém-se e que os negócios irão concretizar-se”, explica Pedro Valente, diretor de investimento da Worx, acrescentando que “tudo irá depender da extensão do impacto do surto na economia do país”.
O retalho não alimentar e a hotelaria, já se sabe, estão entre os segmentos mais atingidos, o que significa que os investidores mais expostos a este tipo de ocupação terão mais dificuldades. Conclui o estudo que, de forma geral, “existe a expetativa de queda dos valores por exigência de yields (taxas de rentabilidade) superiores. Ainda assim, a esmagadora maioria (76%) dos investidores está a reagir com tranquilidade, não prevendo colocar ativos no mercado para fazer face a eventuais dificuldades de liquidez”, ou seja, quem tem imóveis comerciais à venda nestes segmentos não está, por enquanto, a baixar os preços.
“Os proprietários não estão ainda sob pressão e neste momento estão preocupados em gerir os seus inquilinos. Mas para quem está comprador é um facto que agora passaram a dizer-nos ‘atenção, se surgir algum ativo com grande desconto, falem connosco’”, admite Pedro Valente.
Daí os resultados do estudo que apontam para que 54% dos inquiridos afirmem que mudaram o seu perfil de investimento desde que o coronavírus tomou conta do Mundo.
Impactante para as famílias portuguesas será também o impacto do Covid junto das intenções dos promotores imobiliários.
“Os projetos em andamento continuam, as construtoras não pararam, esperam-se apenas algumas dificuldades na entrega de materiais assim como na disponibilidade de mão de obra. Assim, os promotores vão ter que reequacionar alguns dos projetos. É expetável ainda que a área residencial seja a que mais sofrerá com a pandemia, fruto da quebra de confiança dos consumidores”, é realçado no estudo.
Para o diretor de investimento da Worx, é previsível que surjam dúvidas junto de quem estava a apostar na construção nova. “É possível que comecem a repensar alguns planos.. Imagine quem tinha projetos com 100 ou 200 apartamentos para a classe média… Provavelmente vão querer perceber o que vai acontecer a estes potenciais clientes e se continuarão ou não a ter capacidade para os comprar”.
Menos mal estão os sectores do retalho alimentar e a área logística associada ao comércio online. “Na verdade, o Estado de Emergência Nacional imposto pelo Governo, fez com que assistíssemos a um aumento exponencial da procura/compra através de meios digitais que, já existindo, encontraram uma oportunidade natural de desenvolvimento e crescimento”, conclui o estudo.