Totalmente inspirado nos campus norte-americanos – pense em Harvard, Columbia ou Stanford –, o recente campus da Nova School of Business and Economics (Nova BSE) conta com restaurantes, ginásio, incubadoras de startups, residência de estudantes, um auditório com capacidade para centenas de pessoas, uma biblioteca e, ainda, um túnel de acesso direto à praia de Carcavelos. Apesar de pertencer à Universidade Nova de Lisboa, pretende-se que todo o campus seja financiado por privados – até agora, Pedro Santa-Clara já conseguiu angariar 41 dos 50 milhões de que precisa. O professor de Finanças é também presidente da Fundação Alfredo de Sousa, a instituição responsável por este projeto.
Como este campus está a ser construído?
Com uma campanha de angariação de fundos privada – em que 38 empresas e mais de 7 770 pessoas já fizeram doações e que conjuntamente já nos deram 41,5 milhões de euros –, cujo objetivo é chegar aos 50 milhões que é o custo total do campus.
E se não se chegar a esse valor?
Temos um empréstimo do Santander com o Banco Europeu de Investimento, mas tivemos obviamente a ajuda de muita gente, antigos alunos e também muitas pessoas amigas. Se virem no nosso site vão encontrar as fotografias de pessoas que gostam da ideia de a sociedade civil se envolver num projeto grande para o País.
Esta ideia é muito norte- -americana…
Fui professor da universidade da Califórnia, em Los Angeles, durante 12 anos, e nada disto é inventado. Obviamente que estamos a usar as ideias desenvolvidas noutros sítios.
A ideia é manter este modelo de financiamento livre do Estado?
A Nova SBE é uma escola pública e temos muito orgulho em sê-lo. Este campus está a ser desenvolvido pela Fundação Alfredo de Sousa, uma fundação privada, que recebeu o terreno da Câmara de Cascais e uma série de donativos. E essa fundação, que tem o nome do fundador da escola (1978), não tem fins lucrativos e elegeu como único objetivo apoiar a Nova SBE. Portanto, eu diria que temos aqui uma parceria público- -privada virtuosa [risos].
Foi difícil a tarefa de “pedinte”, como lhe chama?
Pedir ajuda é muito interessante, porque se encontra pessoas muito generosas que querem participar, dar a sua retribuição à sociedade, envolver- -se em projetos, e tem subjacente uma certa humildade que muitas vezes não se reconhece nas escolas, que são consideradas como sendo muito fechadas. Pedir ajuda é uma coisa que enriquece muito. E é sinal de inteligência.
Mas o que motiva estes doadores?
Lançámos este projeto em 2013, no auge da crise, numa altura em que o País estava profundamente deprimido, e isso dificultou a tarefa, mas paradoxalmente também se revelou uma vantagem. As pessoas ansiavam por um projeto ambicioso e otimista, que olhasse para o futuro e tivesse ambição internacional. Reviram- -se nesta nossa história de jogar na Champions League europeia, para atrair o melhor talento para estudar aqui, na expectativa de que isso viesse a ter um grande impacto na sociedade.
Mas a Nova SBE já é reconhecida como uma das melhores escolas de Gestão do mundo. O que faltava?
A escola cresceu muito nos últimos anos, e o Colégio de Campolide deixou de ter espaço disponível. Quando fomos para lá, estava eu na licenciatura – portanto em 1988! – e a escola tinha 600 alunos. Agora tem 3 mil. Esta nova morada vai receber mais 3 mil, mas o objetivo é crescer para os 6 mil ao longo dos próximos 10 anos, sendo que tem capacidade para mais ainda. E essa foi a razão urgente de mudar.
E porquê Carcavelos?
Porque as pessoas decidem onde estudar por uma série de razões. Obviamente a qualidade académica e o acesso às melhores empresas é o mais importante, mas o estilo de vida também. E nós somos um bocadinho a Califórnia da Europa. Hoje em dia, temos mais de 300 estudantes da Alemanha a fazer mestrado aqui. Esses alunos querem vir para uma grande escola que lhes garanta os melhores empregos, mas também querem estudar num ambiente interessante. Estamos tão bem no ranking comparativamente a eles que somos já das melhores instituições e, por exemplo, a McKinsey Alemanha vem recrutar alunos alemães na NOVA SBE. Acho isso uma história tão engraçada, porque estamos habituados a endeusar os alemães como os melhores e, na verdade, eles são muito bons a fazer carros, mas se calhar nós somos melhores do que eles em escolas de Gestão.
Há mesmo cacifos para pranchas de surf?
[Gargalhada.] Há muitos cacifos, nomeadamente para pranchas de surf, sim. Porquê? Se pensarem numa escola em Nova Iorque ou em Londres, o argumento para ir estudar para lá é o ambiente cosmopolita, os museus, os espetáculos, as lojas. Nós temos isto, a Natureza, o mar, o ambiente, a boa comida, os preços acessíveis, a saúde de qualidade… além da nossa capacidade de acolhimento. Há muitos países em que há uma espécie de “culturismo” xenófobo, fechado, e isso cá não existe, o que é um ativo brutal para o acolhimento do talento. Sempre nos focámos nestas características para atrair os turistas, mas elas também atraem multinacionais que querem trazer para cá grupos.
Porquê?
Porque este é um sítio onde os profissionais querem viver. Estugarda não é! Também temos muitas startups a virem para cá. Este aspeto da globalização é pouco entendido, mas um dos grandes benefícios desta revolução tecnológica é que podemos escolher onde trabalhar, desde que haja um bom wi-fi.
Acredita que outras universidades possam imitar o vosso modelo?
Gostaríamos muito que isso acontecesse e estamos disponíveis para partilhar a nossa experiência e ajudarmos no que pudermos. Nos últimos meses, tive conversas interessantes com grupos alargados de professores, quer na Faculdade do Porto quer na Universidade Técnica de Lisboa, que são escolas que estão a olhar com interesse para o modelo em desenvolvimento aqui, mas obviamente há muito mais a fazer. Por exemplo, não há razão para que a nossa faculdade de Medicina não seja uma grande escola internacional e não atraia talento do mundo inteiro, ou, também, a faculdade de Arquitetura… Não creio que haja em Portugal outra área de conhecimento que tenha tanto destaque quanto a Arquitetura, e nós temos toda a capacidade de ter uma grande escola de arquitetura no País.
O objetivo é captar mais alunos estrangeiros?
O objetivo é captar talento. Queremos fazer uma das maiores escolas de Gestão do mundo, em Portugal. E acreditamos que isso vai potenciar o desenvolvimento do País, porque os alunos hoje são os líderes das empresas e das instituições amanhã e vão ter sempre uma ligação ao nosso país e aos colegas que cá tiveram.
Têm grandes empresas associadas a este projeto, como se pode ver…
Sim, e todas elas vão ser reconhecidas no campus. Temos muito orgulho em que muitas das áreas deste campus tenham nome. Temos o Santander Hall, o Jerónimo Martins Grand Audiorium, ou a Teresa e Alexandre Soares dos Santos Library, a EDP Plaza. Agora estamos no Hovione Atrium e dizemos isso com muito orgulho, porque essas empresas nos ajudaram muito e porque com cada uma delas estamos a empreender uma série de processos muito inovadores.
Por exemplo?
Há cerca de um ano, mais ou menos, a equipa de inovação do Santander mudou-se para a Nova, ainda em Campolide, para trabalhar com alunos nossos no desenvolvimento de novos produtos financeiros e a pensar no que será um balcão de um banco no futuro, quando todas as transações forem feitas online. E desenvolveram um conceito novo que vai ser ensaiado aqui. E estamos a fazer isso também com a CUF Saúde, em que vamos ter um espaço para promover um estilo de vida saudável no campus. Com a Jerónimo Martins, teremos uma loja de conveniência onde vão ensaiar coisas futuristas, como o pagamento através do reconhecimento facial. Com a CISCO e a Microsoft estamos a desenvolver um espaço onde vamos poder aprender a brincar com novas tecnologias. Isto não é uma escola, é todo um ecossistema. E queremos ativá-lo, porque é dessa interação que vão sair ideias novas e giras.
Portanto, a ideia é mudar o paradigma do que são as universidades portuguesas?
A ideia é ser uma das melhores escolas do mundo. Creio que conheço, seguramente, todas as grandes escolas de negócios dos EUA, da Europa e algumas da Ásia… e não há nenhuma escola como esta. O objetivo é diferenciarmo-nos, porque estamos a concorrer com os melhores, e achamos que Portugal tem uma grande competência no Ensino Superior. Acreditamos que pode ser uma grande indústria de exportação e queremos ser bons nisto, atrair os melhores e ter impacto na sociedade. Cremos que há um espaço em que uma escola pode congregar uma comunidade para fazer alguma coisa de útil.
A mudança de localização foi pacífica?
Claro que ela causou disrupções na vida das pessoas, no percurso de casa para a escola dos miúdos, daí para o emprego… No esquema das coisas estamos a falar de 15 quilómetros, mas claro que é potencialmente um problema e prestámos atenção a isso. Vamos ter um passe especial para a comunidade NOVA, que junta metro, CP, Carris, Cascais Próxima… fizemos parcerias para termos preços especiais. Vamos ter muitas bicicletas, a Câmara de Cascais vai pôr aqui um shuttle de condução autónoma, com a Brisa desenvolvemos o Via Verde boleias, que permite a partilha de boleias entre pessoas. É preciso perceber que dois terços dos nossos alunos não são originários de Lisboa, sejam estrangeiros ou não. Portanto, é um bocado irrelevante virem viver para aqui ou para lá.
Isto provoca algum efeito nas médias de entrada?
Nós vivemos em duas realidades muito distintas. Nas licenciaturas temos um sistema altamente regulado, em que o Ministério da Educação nos diz quantas vagas temos, que alunos e que propinas recebemos. E neste caso decidiu, neste ano, e presumo que para o ano também, reduzir o número de vagas que temos em 5 por cento, o que vai ter impacto nas médias… Não tem nada que ver com o sítio em que nós estamos e nós teríamos todo o gosto em aceitar mais alunos de licenciatura, dando-lhes uma boa formação e oportunidades de emprego. Nos mestrados, vivemos num paradigma completamente diferente, em que somos nós que determinamos o número de vagas, as propinas que cobramos e em que concorremos com todas as escolas do mundo. Estamos a atrair alunos da África do Sul, da China, que pagam preços de mercado e que são importantes. Não acho que a localização tenha impacto nas médias, mas de facto há lugares menos agradáveis para se estudar.
Vai ser mesmo uma cidade dentro da cidade?
Pensámos muito nisso na altura do Campus, se faria sentido no século XXI fazer um campus físico. Chegámos a conclusão de que este faz todo o sentido e desenhámos este campus para a interação, para fazer com que as pessoas “choquem” umas nas outras. O ensino é uma coisa social. A faculdade é uma altura em que se estuda, mas em que se fazem trabalhos de grupo, em que se desenvolvem novos interesses, em que se criam novos amigos, namorados…tudo isso faz parte do processo. E esta escola é desenhada para ter vida, para ter um ginásio, restaurantes. E isto tudo está aberto ao mundo, sem muros. Queremos ser uma escola que acolha o mundo. Tens uma ideia boa? “Bora.” Nós somos desafiáveis.