Para marcar a chegada aos 30 anos, a VISÃO lança a rubrica multimédia “Ideias com VISÃO”. Serão 30 semanas, 30 visionários, 30 ideias para fazer agora. Da ciência à saúde, das artes ao humor, das empresas ao ambiente, figuras de referência nas mais variadas áreas darão os seus contributos para pensar um Portugal melhor. Semanalmente em papel e aqui em vídeo.
A minha ideia é, simultaneamente, simples e complicada: passa por reforçar o orçamento da área dos Negócios Estrangeiros. Já estamos a atravessar um grande debate nacional sobre dignidade salarial, o aumento dos salários, seja no setor público, seja no setor privado. Isso tem de passar por um pacto de regime e, evidentemente, acompanhar o ciclo de crescimento económico e também um debate sobre o peso (ou não) da fiscalidade. Para termos uma ideia, os Negócios Estrangeiros são a segunda área com menor orçamento de todas as áreas governativas (só a Coesão Territorial tem orçamento menor). Estamos a falar de metade do orçamento da Cultura, quatro vezes menos do que a Defesa e, se muitas vezes ouvimos dizer que precisamos de atingir os 2% do PIB para a área da Defesa, julgo que temos de caminhar para essa métrica do PIB para os Negócios Estrangeiros.
Porque é que esta área é fundamental? Em primeiro lugar, porque temos uma economia muitíssimo aberta (metade do PIB vem das exportações) e, portanto, temos de ter um setor empresarial profundamente internacionalizado: é preciso recursos humanos, é preciso prospeção de mercado, é preciso que a nossa diáspora, os nossos diplomatas e os nossos técnicos nas embaixadas e nos consulados, esteja ativa nessa capacitação das empresas e dos mercados. Em segundo lugar, porque, num mundo tão crispado como aquele em que vivemos, a diplomacia é fundamental: precisamos de encontrar, nas nossas relações bilaterais e multilaterais, todos os diagnósticos, e antecipar os grandes dilemas onde os nossos interesses nacionais se jogam. Em terceiro lugar, há também um problema da própria dignidade do Estado, que se coloca nas principais áreas de soberania. Já falei da Defesa, mas também posso falar da Justiça, das forças armadas, das forças policiais. Os nossos diplomatas não estão à margem disto: têm um congelamento salarial há muitos anos, têm tensões internas e expectativas (sobretudo dos mais jovens) que precisam de ser acompanhadas.
Esse é um dos dilemas maiores: como é que, do ponto de vista das finanças públicas, conseguimos ir ao encontro das expectativas de variadíssimas profissões? Não podemos, no entanto, continuar a ter a ponta-de-lança do nosso prestígio internacional – os nossos diplomatas e a internacionalização das nossas empresas estão nesse patamar – desorçamentada, desinvestida e desmotivada. É preciso projetar, ainda mais, Portugal no mundo.