Uma hora antes de tiro de partida do Web Summit, Andrus Ansip concentra os holofotes na sala de imprensa. No bolso leva um elogio ao sistema de contratação eletrónica adotado pelos hospitais portugueses, que permite reduzir 80% dos custos operacionais e que, se fosse adotado por todos os sistemas de saúde da UE, poderia representar um corte de 100 mil milhões de euros anuais. O elogio das melhores práticas nacionais logo é interrompido quando um jornalista pergunta pelo fim do roaming. «A 15 de junho de 2017, o roaming deverá acabar», garante o comissário europeu para o Mercado Único Digital, com o semblante de quem quer ser levado a sério.
A questão tem quase 10 anos – mas os operadores do sul da Europa nunca se conformaram com uma diretiva que impede a cobrança de valores acrescentados a europeus em trânsito por países da UE. Andrus Ansip não parece muito sensibilizado para tal apelo que, em Portugal, já foi repetido por operadores e chegou mesmo a contar com uma intervenção da Autoridade Nacional das Comunicações.
O comissário europeu admitiu compreender o descontentamento dos operadores do sul que perdem as receitas adicionais providenciadas pelos turistas nos três meses de verão, mas não se mostrou disposto a inverter a evolução que levou a que «este seja o primeiro ano em que os europeus se sentiram verdadeiramente livres de usar o telemóvel na UE». E à reivindicação regionalista de defesa do roaming, Ansip fez contrapor a realidade económica dos países nórdicos, que deu aos consumidores da Finlândia tarifários de telemóvel iguais aos que existem no país de origem quando viajam pela Suécia, Noruega, Dinamarca, Estónia, Letónia e Lituânia.
«O consumo de dados em roaming cresceu 33 vezes (desde o lançamento do tarifário que acaba com o roaming). Repito 33 vezes e não 33%», estima.
O Comissário defendeu que tem de haver um equilíbrio entre norte e sul e que, do mesmo modo, que as pretensões anti-roaming dos operadores de Portugal, Espanha ou Itália têm de ser tidas em conta, também não se pode pôr em causa os modelos de negócio que foram aplicados pelos operadores nórdicos que cobram 50 vezes menos pelos dados que os operadores portugueses e 100 vezes menos que os operadores húngaros.
Quem ouviu Ansip hoje, não terá muitas dúvidas de que o roaming tem os dias contados: «já reduzimos 96% dos custos do consumo de dados em roaming, por que é que não haveríamos de cortar os quatro por cento que faltam?».