O delicioso livro de Roald Dahl, “Matilda”, é uma ode à curiosidade infinita que todos temos na infância – e este é o segredo. Dahl lança aqui as suas farpas sempre certeiras e irónicas aos adultos, que castram tanto esta ânsia de conhecimento que acabam por tornar as crianças iguais a eles, ou seja, fazem com que parem de inventar, de criar, de questionar o que as rodeia, até que se tornam seres planos e conformados. Na sua história, Dahl dota Matilda de poderes extraordinários, como mover objetos com a mente, com os quais castiga os adultos medíocres que a rodeiam. A sua telecinesia é vingativa e brincalhona. Porém, mover objetos com a mente – uma antiga aspiração esotérica e ainda no âmbito da ficção científica à data da publicação do livro, em 1988 – é hoje (quase) uma realidade. Uma das pessoas que mais aposta em fazer desta uma tecnologia tangível é pouco mais velha do que a própria Matilda. Aos 16 anos, Ananya Chadha descreve-se a si mesma, na sua página na Internet, como “uma rapariga de Toronto que acredita que o único caminho para criar um futuro melhor para a Humanidade é aumentar a nossa própria inteligência. É por isso que estou tão interessada e empenhada na área das interfaces cérebro-computador”.
A descrição de Chadha dificilmente encaixa na da adolescente que é, porque a adolescência, supostamente, é dominada pelas hormonas, desprezando tudo o que interfira com a hipótese de ter uma conta no Instagram com o maior número possível de seguidores. Mas, claramente, Ananya não é uma rapariga comum, como se comprova pelo facto de ser uma especialista na tecnologia Blockchain ou pela sua colaboração regular com empresas como a Microsoft. Uma das áreas que mais lhe interessa é, precisamente, a da possibilidade de controlar objetos – robôs ou computadores – com o nosso cérebro: “O problema é que o hardware que temos é muito mau, pelo que é difícil captar boas ondas cerebrais”. Chadha trabalha com interfaces que ela própria criou, que depois liga ao cérebro através de elétrodos para mover pequenos robôs. O motivo que a levou a escolher uma tecnologia que promete ser disruptiva é o facto de se tratar de uma área com enormes potencialidades de desenvolvimento no prazo de 20 anos “e ter todo o futuro pela frente”. Chadha acredita que as suas investigações podem ter uma grande repercussão no âmbito da Saúde, daí as suas últimas invenções estarem direcionadas para a construção de próteses que, uma vez ligadas ao cérebro, permitem ao doente movimentar, por exemplo, um braço protésico como se fosse o seu próprio.
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Esta possibilidade de comunicarmos com as máquinas (e até entre nós) diretamente através do cérebro abre também a porta a possíveis acessos indevidos aos pensamentos ou a informações de outra pessoa. Por isso, Chadha, em vez de se preocupar, como a maioria dos jovens da sua idade, em qual será a próxima série de sucesso da Netflix, questiona-se sobre a possibilidade de alguém poder controlar as nossas emoções através da tecnologia e, mais importante, se todos estes avanços vertiginosos nos fazem realmente felizes. Mas, por mais extraordinárias que sejam as suas competências, Ananya Chadha é uma adolescente que se identifica com a sua geração, e acha que, graças à Internet, que permite o livre acesso à informação e a ligação entre milhões de pessoas, os jovens estão mais do que nunca preparados para mudar o mundo.
Entrevista e edição: Azahara Mígel, Cristina López
Texto: José L. Álvarez Cedena