De acordo com dados revelados pela Kaspersky, relativos a 2023, cerca de 31 mil utilizadores no mundo foram afetados por software malicioso e discreto, desenvolvido para enviar informações de um dispositivo para o outro sem o consentimento de uma pessoa (stalkerware). A Rússia lidera a nível mundial, enquanto que na Europa os mais afetados são a Alemanha, França e Reino Unido.
Portugal é o décimo país da lista apresentada pela empresa russa de cibersegurança Kaspersky onde são registados mais casos de stalkerware na Europa. Num estudo realizado pela tecnológica no ano de 2023 foram registados 63 casos de stalkerware em Portugal.
Neste relatório e comparando com o ano de 2022 (29.312) existiu um aumento de 5,8% em casos de stalkerware em todo o mundo em relação a 2023 (31.031). Números que provam que a monitorização digital sem consentimento é um problema à escala global.
A Rússia foi o país mais afetado por este problema com 9.890 casos, seguida do Brasil com 4.186 e da Índia com 2.492 utilizadores afetados. A Alemanha (577), que está em primeiro lugar dos países mais afetado da Europa, encontra-se apenas em 8º lugar à escala mundial. França (332) e Reino Unido (271) fecham o pódio europeu.
No relatório está descrito que 40% dos inquiridos no mundo já foram vítimas de perseguição digital, em Portugal esse número está nos 21%. Noutro dado, 8% dos inquiridos portugueses afirmam já ter sido perseguidos, ou suspeitaram ter sido, através de aplicações móveis e 5% através de dispositivos de monitorização.
No que toca a relacionamentos, o stalkerware também é uma tecnologia utilizada de forma a controlar o parceiro. Em Portugal, 5% admitem instalar aplicações no telemóvel do parceiro, enquanto que 4% reconhecem que já pressionou o parceiro a instalar. O estudo revela ainda que 54% dos inquiridos a nível global são contra a monitorização do parceiro.
“Estas conclusões põem em evidência o delicado equilíbrio que as pessoas encontram entre a intimidade e a proteção das informações pessoais. É positivo observar uma maior cautela, especialmente em relação a dados sensíveis como as passwords dos dispositivos de segurança”, afirma David Emm, especialista em segurança e privacidade de dados na Kaspersky, em comunicado.
Para o mesmo especialista, “estes dados sublinham a importância de fomentar uma comunicação aberta nas relações, estabelecer limites claros e promover a literacia digital”.
Segundo a Kaspersky, na grande maioria dos países do mundo, a utilização do software de stalkerware não é especificamente proibida, mas a instalação de uma aplicação deste tipo no smartphone de outra pessoa sem o seu consentimento é ilegal, e punível por lei.
A diretora do Safety Net Project, Erica Olsen afirma que: “Este relatório destaca tanto a prevalência de comportamentos de perseguição perpetrados com tecnologia como as perceções relacionadas com a privacidade nas relações entre parceiros íntimos. A utilização de stalkerware ou de qualquer ferramenta para monitorizar outra pessoa sem o seu consentimento é uma violação da privacidade e uma tática comum de abuso”.