No dia 31 de dezembro, a empresa canadiana BlueDot enviou para os respetivos clientes um relatório premonitório do que reservava o início de 2020: uma disseminação de vírus que causam pneumonias estaria em vias de ser desencadeada. A previsão não só superou a dos Centros de Controlo de Doenças dos EUA, que apresentaram uma previsão similar a 6 de janeiro, como se anteciparam à Organização Mundial de Saúde (OMS), que confirmou a existência do surto de pneumonias de origem viral que viria a ser conhecido como Coronavírus, no dia 9 de janeiro, informa a Wired.
A startup Bluedot foi criada por Kamran Khan, médico especializado no controlo de epidemias e doenças infeciosas, depois de deparar com a dificuldade das autoridades para antecipar surtos de gripe como o de 2003, que viria a ficar conhecido pelas siglas SARS – e que vitimou 44 pessoas na cidade de Toronto, depois de ter feito as primeiras vítimas na China.
Para antecipar estes casos de disseminação de vírus, a startup recorre aos préstimos de médicos e engenheiros informáticos que criaram ferramentas que não só têm em conta a forma de como diferentes bactérias ou vírus se propagam, como ainda analisam, através do processamento de textos, informações fornecidas por diferentes noticiários divulgados em 65 idiomas. A esta base de dados foram ainda adicionados detalhes relacionados com as viagens de aviões em diferentes pontos do mundo.
Esta última categoria de dados terá sido determinante para levar a Bluedot a prever que o coronavírus, que começou na cidade chinesa de Wuhan, haveria de chegar nos dias seguintes a Banguecoque, na Tailândia, Seul, na Coreia do Sul, Tóquio, no Japão, e Taipei, em Taiwan.
Os mentores da startup não usam informação das redes sociais – precisamente para evitar informação que é imprecisa ou simplesmente não corresponde à realidade. As previsões são enviadas para as autoridades dos EUA e do Canadá, bem como para hospitais que têm de lidar com doenças contagiosas. Por enquanto, os relatórios com previsões ainda não são disponibilizados ao público.
«O que nós fizemos é usar processamento de linguagem natural e aprendizagem máquina (machine learning) para treinar este motor (de busca) para distinguir a existência de um surto de anthrax na Mongólia do regresso aos palcos da banda de heavy metal Anthrax», descreve Kamran Khan, citado pela Wired.
Antes do Coronavírus, o sistema de previsões da Bluedot já havia conseguido prever a chegada do vírus Zika ao estado da Florida nos EUA – e chegou mesmo a prever com 140% de precisão face ao Google Flu Trends, entretanto descontinuado, a severidade da disseminação da gripe em 2013.