
O processo pode demorar dois a três anos até produzir uma deliberação final, mas Paulo Trezentos, líder da Aptoide, não desarma na queixa que acaba de apresentar na Comissão Europeia contra a Google, por alegado abuso de posição dominante: «Temos crescido com médias de 100% ao ano e vamos continuar a crescer».
Na queixa apresentada em Bruxelas, os responsáveis da Aptoide dão a conhecer quatro práticas que dificultam a expansão de lojas concorrentes da Play: 1) Impedimento de entrada de lojas concorrentes na Play; 2) a Google dificulta a instalação de software de lojas alternativas à Play nos dispositivos que correm Android; 3) a Google tem vindo a usar alguns dos serviços para bloquear a concorrência e beneficiar a Play; e 4) a agregação da interface de programação de aplicações (API) com a Play.
Paulo Trezentos, um dos nomes mais conhecidos na defesa do open-source e do software livre em Portugal, já não tem dúvidas: «O Android continua a ser open-source, mas num nível acima, nos serviços que correm sobre o Android, não são respeitados os princípios do open-source. E porque queremos que haja concorrência a esse nível apresentámos queixa na Comissão Europeia».
O processo é revelador dos interesses e cifrões em jogo: segundo um estudo da ABI, o mercado das apps está avaliado em cerca de 23 mil milhões de euros. A Google, que criou o Android poderá ter visto o aparecimento da Aptoide, enquanto tecnologia que permite criar várias lojas de apps, como um importante aliado no crescimento do sistema operativo que hoje lidera o mundo do segmento móvel.
Aproveitando a facilidade de entrada no reino do Android, a Aptoide cresceu dos 750 mil downloads diários em 2012, para números que a tornam naquele que é, provavelmente, o maior projeto empresarial português na área do software, com seis milhões de utilizadores mensais e entre 1,5 e dois milhões de downloads diários. Atualmente, o projeto serve de ponto de venda de mais de 200 mil apps, que são distribuídas através de mais de 120 mil lojas que recorreram à ferramentas da Aptoide.
A Google ainda não fez qualquer comentário sobre o assunto, mas as palavras de Paulo Trezentos permitem concluir que, direta ou indiretamente, a Play dificilmente pode beneficiar com o crescimento da Aptoide: «Os números são escassos. Não se sabe bem quais as quotas de mercado das lojas de apps da Samsung e da Amazon. Temos a ideia de que teremos hoje uma quota de 3% a 4%, sem conta com o mercado chinês. E queremos chegar a meados de 2016 com uma quota de 10%».
Com o processo, a Aptoide mantém a esperança de que a Comissão Europeia «inverta as práticas da Google» e tome medidas para a evolução de um mercado competitivo na venda de apps. Paulo Trezentos dá como exemplo o que se passa no mercado chinês: «A Play está bloqueada na China e, por isso, há lá cinco grandes app stores com grandes crescimentos».