Numa frase, Daniel Morais explica como se passa de uma folha de papel para videojogo pronto a estrear: «A ideia de criar o Doodle Unites surgiu quando estava a fazer um desenho». Doodle Unites é um dos nove jogos que passaram na Montra de Jogos (Mojo) organizada pelo curso de Engenharia Informática e de Computadores do Instituto Superior Técnico, no Taguspark. Daniel Morais, finalista do curso, tem razões para estar otimista quanto ao futuro deste jogo de cooperação, que «não é aconselhável jogar sozinho»: Duas semanas antes, o Técnico recebeu a visita de Warren Spector, criador de títulos como Deus Ex e Epic Mickey. Sobre Doodle Unites disse estar «pronto para ir para o mercado dentro de dois meses». Daniel Morais e restante equipa vão poder ver o que vale a ideia que nasceu numa folha de papel, com apresentando o Doodle Unites à votação dos utilizadores da plataforma Steam, numa iniciativa conhecida por Green Light.
Os nove jogos da Mojo foram produzidos nas cadeiras de Desenho e Desenvolvimento de Jogos e Tecnologias de Jogos. «No Desenho e Desenvolvimento de Jogos, tentamos que vão muito além das questões relacionadas com as tecnologias, e que explorem questões relacionadas com a criatividade e a expriência», explica Rui Prada, um dos três professores que lecionam as duas cadeiras.
Na cadeira de Tecnologias de Jogos, os alunos têm de implementar as ideias que foram votadas e escolhidas pela turma. Durante esta fase, os jovens são confrontados com um contrarrelógio que não está livre de imprevistos: «No jogo I want to be weak, o personagem principal é um deus que tem por objetivo ficar mais fraco e humano. Só que não estávamos a conseguir dar a volta à jogabilidade e optámos por criar um jogo de plataformas, com um único nível, e apenas com teleporte e bolas de fogo. Fizemos este jogos em cerca de quatro meses, mas tivemos de mandar muito desse trabalho fora…», explica Ruben Abóbora, aluno do Técnico e um dos criadores de I want to be Weak.
Durante o desenvolvimento dos jogos, os estudantes do Técnico contaram com o apoio da escola de design Odd School e da Miniclip. Alguns jogos terão mesmo superado as exigências técnicas das duas cadeiras dedicadas aos jogos. Mas nem só de técnica vivem os jogos.
A dimensão das equipas e o tempo disponível podem fazer a diferença em disciplinas em que os alunos trabalham mais do que é costume. «Também é normal haver conflitos entre membros da equipa que fazem com que as coisas por vezes não funcionem. Queremos que os nossos alunos passem por esse lado humano. E as parcerias que estabelecemos com outras entidades também nos ajudaram a melhorar o trabalho de equipa», explica Rui Prada.
Quatro dos jogos desenvolvidos para a Mojo foram desenhados para operar em telemóveis – uma tendência que, tudo indica, será reforçada nos tempos mais próximos.
«É rara a pessoa que hoje não tem telemóvel; e também começa a ser raro ter um telemóvel e não jogar jogos nesse telemóvel», responde João Nunes, um dos criadores de Susmani’s Journey, quando inquirido sobre o motivo que o levou a desenvolver um jogo para o sistema operativo dos iPhones e iPads.
Nem todos os jogos têm como fonte de inspiração uma folha de papel: no caso do Susmani’s Journey há um grau de parentesco com um jogo conhecido como World of Goo: «Não, o nosso jogo não é uma imitação. Apenas nos inspirámos no World of Goo para criar um jogo sem as coisas que não gostámos no World of Goo. Um exemplo: os nossos Susmanis não estão presos e por isso, caem, por vezes, onde não devem», reitera João Nunes.
João Nunes e os seus colegas de equipa tiveram de aprender a programar em Objective C para poder produzir um jogo para iOS. Noutros títulos presentes na Mojo, os criadores de jogos optaram pela programação em C# e pelo uso do motor Unity, bem como repositórios de módulos gráficos e músicas que são distribuídos gratuitamente desde que não haja propósitos comerciais.
Rui Prada não tem dúvidas: não falta talento à comunidade nacional. «Há, pelo menos, quatro jogos que são inovadores… mas que precisam de investimento. O problema é a divulgação. Há empresas portuguesas que fazem coisas com qualidade. Só que há um problema de divulgação», sublinha o professor do Técnico.
No segmento dos telemóveis, os projetos independentes e de baixos recursos terão mais facilidade em singrar – e por isso, há quem como João Nunes mantenha a expectativa de conseguir fazer negócio com projetos como Susmani’s Journey. Rúben Abóbora tem perspetivas diferentes no que toca a uma carreira dos jogos: «Só como última alternativa é que iria para outra área. Admito ter de ir para o estrangeiro para prosseguir este sonho».
Nas imagens inseridas nesta página pode saber um pouco mais sobre os nove jogos produzidos na Mojo e a Montra de Jogos que teve lugar na passada quarta-feira.