O Verão é, para muitos, sinónimo de férias, mas o mundo do cibercrime está sempre à ‘espreita’ e em busca de novas oportunidades para atacar. Para as empresas, baixar a guarda é impensável, porém, durante o período de férias e com equipas reduzidas, dar conta dos desafios na cibersegurança torna-se mais complicado. Fora do escritório, há também comportamentos que, embora pareçam inofensivos, podem abrir brechas na estratégia de defesa e, no pior dos cenários, pôr em causa a segurança de toda a operação.
“As empresas podem criar as suas proteções todas, mas depois, a conduta de cada um de nós pode fazer com que grande parte dessas proteções venha a ser absolutamente inútil”, explica José Eduardo Fonseca, Diretor da Kyndryl em Portugal, em entrevista à Exame Informática.
Para quem usa o seu smartphone ou computador pessoal como ferramenta de trabalho, ou para quem leva dispositivos corporativos em viagens, a ‘tentação’ de ligar a redes Wi-Fi públicas em hotéis, cafés ou restaurantes é grande. Mas, como relembra o responsável, essas redes são abertas e nem sempre há o cuidado de usar ferramentas como VPNs para aceder a dados mais sensíveis.
Aceder a informação sensível em público, como dar uma última vista de olhos a um plano importante ou abrir uma conversa acerca de um projeto ainda em desenvolvimento, sem ter em conta a presença de olhares indiscretos também traz riscos acrescidos. Pior ainda quando se deixam os equipamentos sozinhos, com um momento de distração a poder resultar, por exemplo, em roubo.
E para quem opta por ficar em casa? “Este problema em casa não é mais grave do que aquele que temos com o trabalho remoto”, afirma José Eduardo Fonseca. “Utilizamos a rede da nossa casa e, entretanto, temos filhos e pessoas a partilhar a mesma rede com equipamentos que não estão devidamente protegidos e com uma utilização não protegida”, abrindo-se assim mais uma porta para a atuação dos cibercriminosos.
“Se as pessoas adotarem comportamentos mais desadequados – no fundo, se baixarem a guarda – aumenta a possibilidade de criar portas de entrada”, realça o responsável. A dificuldade em fechar essas portas rapidamente pode ser maior quando as empresas têm menos recursos disponíveis para tal.
Menos recursos, mais problemas
José Eduardo Fonseca explica que, durante o período de férias e, com menos colaboradores disponíveis, “a deteção e recuperação pode ser um pouco mais demorada”, algo que “acontece muito quando as empresas têm os seus serviços in-house”. Além disso, “como as equipas estão de férias, não estão a aplicar as atualizações do software e qualquer vulnerabilidade que exista está ‘explorável’ durante mais tempo”.
Mas não é só a capacidade de monitorização que é afetada: há “menos capacidade para atuar, menos capacidade para responder a uma situação antes que ela se torne grave e menos capacidade para retomar as operações no caso de uma situação grave”.
É aqui onde empresas como a Kyndryl podem ajudar a colmatar lacunas, defende o responsável. “A Kyndryl tem uma experiência muito grande e de muitos anos a trabalhar, principalmente, com clientes e com empresas que têm IPs de elevada complexidade e na gestão de ambientes críticos”, indica.
“Utilizando a nossa experiência podemos ajudar com técnicos para implementar planos de atividade adequados; planos de recuperação, planos de defesa, de acesso às tecnologias existentes para os processos sejam ajustados se for necessário”, sem esquecer, claro, “explicar aos clientes que é super importante terem capacidades in-house”, afirma, embora reconheça que, “na questão do talento, se é cada vez mais difícil conseguir trazê-lo para dentro de casa, é dificílimo mantê-lo”.
Ter uma estratégia é fundamental
Embora serviços como os que são prestados por empresas como a Kyndryl possam ajudar a colmatar lacunas, a estratégia de cibersegurança é uma área que não pode ser descurada pelas organizações. “Devem ter todas uma estratégia de cibersegurança – um plano de ‘ataque’ às questões de segurança”, afirma José Eduardo Fonseca.
Nesse sentido, a formação dos funcionários é fundamental, sendo uma questão que precisa de estar em constante atualização, “porque há novas tendências e nós temos de aprender a reagir ou saber como não reagir a algumas coisas que nos aparecem à frente”.
Da estratégia devem constar mecanismos de proteção contra ameaças, sejam eles mais simples ou mais sofisticados, assim como “deteção e monitorização constante, com testes de penetração e análise de vulnerabilidades” feitos com regularidade para corrigir eventuais falhas que necessitem de atenção.
A par da prevenção, a recuperação assume também grande relevância para a estratégia a delinear pelas empresas. O responsável explica que nos casos de ransomware é frequente que os atacantes fiquem cerca de 180 dias ‘escondidos’ nos sistemas até que o ataque seja visível. Durante estes seis meses, os cibercriminosos estão a “minar, a destruir e a minimizar a capacidade de recuperação”. “Se a organização não conseguir recuperar, a probabilidade de ceder ao resgate aumenta”, realça.
Além de cópias imutáveis, com dados importantes salvaguardados, é necessário ter um Minimal Viable Company (MVC), ou seja, “qual é que é o mínimo do mínimo dos sistemas que possam estar operáveis para que a empresa possa continuar a operar?”. A ssegurar que há um MVC envolve todo um trabalho de análise e preparação e, “quanto mais depressa [uma empresa] terminar esse trabalho, mais depressa é possível ter cópias imutáveis e mais depressa se reduz o nível de exposição para a recuperação”.
Por fim, de nada serve ter uma estratégia ‘no papel’ sem a ter testado ou discutido, sobretudo quando consideramos que, no momento em que é descoberto um ciberataque, o pânico instala-se: “são as pessoas a verem, de repente, o mundo a fugir-lhes por baixo dos pés e isso transforma as coisas em algo extraordinariamente complicado”.