Um júri do tribunal de Manhattan considerou Joshua Schulte culpado de todas as nove acusações que pendiam sobre ele, num cúmulo de 80 anos de prisão. O antigo especialista em segurança informática da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) é acusado de ter revelado à WikiLeaks documentos e código fonte de ferramentas de espionagem usadas pela agência. O procurador do Departamento de Justiça Damian Williams apelidou a conduta de Schulte como “um dos atos de espionagem mais nocivos da história dos EUA”, com a fuga de informação que incluía “algumas das ferramentas de espionagem mais críticas” a serem reveladas ao público e às nações adversárias.
O caso data de 2017, quando a WikiLeaks começou a divulgar milhares de documentos e código-fonte de ferramentas da CIA. A informação foi então publicada num conjunto de dados que viria a ser conhecido como ‘Vault7’. A fuga de informação continha especificações de vulnerabilidades de dia zero exploradas pela CIA para espiar os seus alvos. Inicialmente, a WikiLeaks comprometeu-se a não divulgar estas falhas antes de falar com os criadores do software. As vulnerabilidades diziam respeito aos sistemas operativos iOS, Android, Windows e até ao das smart TV da Samsung. No entanto, a organização terá demorado a contactar os fabricantes e acabou por avançar com a divulgação na mesma.
Sean Roche, diretor da CIA para a Inovação Digital, comparou a fuga de informação a um “Pearl Harbour digital”, explicando que a agência teve mesmo de encerrar a maioria das operações em curso enquanto avaliava o impacto das revelações. A publicação Vice cita Sean Roche, que considera que o ex-hacker “colocou em perigo imediatamente as relações que tínhamos com outras partes do governo e com parceiros vitais em governos estrangeiros, que enfrentaram riscos muitas vezes para nos apoiar. E colocou os nossos oficiais e instalações, domésticos e no estrangeiro, em perigo”.
As motivações de Schulte parecem ser de ódio em relação à CIA e aos seus agora ex-colegas. O hacker tem ainda um caso em tribunal a decorrer, onde é acusado de posse de material de exploração infantil, que os investigadores alegam ter encontrado no seu portátil aquando das buscas.